10 de Abril, 2024 gcoelho

Venda de casas começa a dar a volta na Europa – e em Portugal?

Queda nas transações nos países da UE continua a sentir-se, mas é menos intensa. Portugal regista a menor redução num ano.
Venda de casas em Portugal

habitação na Europa deu uma volta de 360 graus durante 2023. Os efeitos da alta inflação e dos elevados juros no crédito habitação fizeram-se sentir – e muito – no mercado, provocando um tombo na venda de casas em vários países europeus, Portugal incluído. Mas será que o negócio das casas vai continuar a arrefecer? Os dados mais recentes do Eurostat mostram que o mercado residencial já dá sinais positivos: a queda na venda de casas foi sentida em menos países na reta final de 2023 e foram também menos intensas. Portugal é um exemplo disso mesmo, já que registou o menor recuo na venda de casas (-11,4%) num ano.

A tendência de queda na venda de casa continuou a observar-se até ao final de 2023. Os dados do Eurostat publicados esta segunda-feira, dia 8 de abril, revelam que o número de habitações compradas caiu em 9 dos 14 Estados-membros da União Europeia (UE) com dados disponíveis entre o final de 2023 e o mesmo período de 2022. Os maiores recuos nas transações de casas foram observados no Luxemburgo (-35,5%), em França (-24,8%) e na Áustria (-19%). Por outro lado, a venda de casas manteve-se estável nos Países Baixos e aumentou na Dinamarca (+32,4%), Chipre (+20,3%), Bulgária (+19,1%) e Finlândia (+1,5%).

Neste leque de países está Portugal, onde a queda na venda de casas no final do ano passado foi de -11,4%, a sétima maior entre os países europeus. Mas olhando para a evolução das transações residenciais ao longo do tempo, salta à vista que esta foi a redução de venda de casas em Portugal menos intensa num ano (no último trimestre de 2022 foi de -16,4%).

Isto quer dizer que houve uma redução menos acentuada no número de casas vendidas no nosso país no final de 2023, o que sugere sinais de estabilização. Esta foi uma tendência também identificada, regra geral, nos países da UE, já que nos trimestres anteriores as quedas anuais na venda de casas foram mais intensas e foram registadas em mais países (12) do que no final de 2023.

Venda de casas em Portugal e na Europa cai de forma menos intensa – porquê?

Este sinal de estabilização no mercado de residencial europeu surge numa altura em que o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter os juros diretores inalterados – a primeira de quatro manutenções das taxas ocorreu em outubro. Esta decisão do regulador europeu liderado por Christine Lagarde trouxe mexidas imediatas na Euribor em baixa (embora suaves) no final do ano passado e outro ânimo para quem estava a pensar comprar casa com recurso a crédito habitação.

Além disso, também se observou a tendência de desaceleração da inflação na zona euro, aliviando o poder de compra, e ainda correções de preços das casas, sobretudo, nos países onde as transações mais têm caído (Luxemburgo, França e Áustria). Ainda assim, os preços das casas à venda na zona euro já estão a dar sinais de recuperação tendo a descida registada no final de 2024 (-1,1%) sido menos intensa face à do trimestre anterior (-2,2%). Já em Portugal os preços das casas à venda continuam a subir, tendo mesmo registado a 5.ª maior subida entre os países da UE (+7,8%), sobretudo explicada pela escassa oferta de casas disponíveis no mercado de compra e venda face às necessidades da procura.

Venda de casas em Portugal: como evolui?

Mesmo considerando os padrões de compra sazonais identificados pelo Eurostat – que indicam que o número médio de casas transacionadas tende a ser mais elevado na reta final do ano em 9 países (Irlanda, Bulgária, Bélgica, Chipre, Países Baixos, Espanha, Luxemburgo, Áustria e Portugal) –, verifica-se que estes mercados residenciais deram sinais positivos, já que a venda de casas decorreu a melhor ritmo em 6 desses 9 países no final de 2023 face ao final de 2022.

O que se sente no mercado é um otimismo moderado para a retoma da compra de casa em 2024, que muito poderá ter que ver com os primeiros cortes dos juros diretores pelo BCE – que estão previstos para junho, esperando-se uma nova estabilização das taxas na reunião de política monetária que vai ter lugar esta quinta-feira, dia 11 de abril. Isto porque o mercado residencial português e de outros países europeus continuam a ser dependentes de crédito para comprar casa, estando, assim, mais expostos às flutuações dos juros. É por isso mesmo que vários especialistas em imobiliário ouvidos pelo idealista/news acreditam uma queda mais acentuadas das taxas Euribor a verificar-se em 2024 pode ajudar a reanimar a compra de casa, já que o interesse continua a existir.

Venda de casas na Europa
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Venda de casas novas cai mais na UE face às casas usadas – Portugal é exceção

O balanço final de 2023 revela que a venda de casas caiu em 13 países dos 14 países com dados disponíveis face ao ano anterior, tendo aumentado apenas no Chipre (+31,0%).  As maiores reduções das transações habitacionais foram observadas no Luxemburgo (-43,3%), Áustria (-28,2%) e Hungria (-26,1%). Em Portugal, a venda de casas caiu 19,8% entre 2022 e 2023, estando em sétimo lugar na lista de maiores recuos.

“O Luxemburgo é o único país que apresentou uma diminuição no número de alojamentos transacionados todos os anos nos cinco anos mais recentes (2019 a 2023)”, destaca o gabinete de estatística europeu no mesmo documento.

Destes países, 11 Estados-membros divulgaram dados detalhados sobre a venda de casas novas e de casas existentes. Entre eles, nove apresentaram queda maior na venda de casas novas do que nas transações de casas usadas. “Apenas em Portugal e na Irlanda, as transações com habitações existentes diminuíram mais do que as transações com habitações recém-construídas”, conclui o Eurostat.

A venda de casas novas caiu em todos os 11 países, com o número de transações a diminuir mais no Luxemburgo (-68,3%) e menos na Irlanda (-1,4%). Já no caso das casas usadas, verifica-se que a venda de casas caiu em 10 dos 11 países, com a maior redução a ser observada no Luxemburgo (-36,8%) e a única exceção a ser registadas na Bulgária (+0,1%).

Em Portugal, a venda de casas novas caiu 7,3% entre 2022 e 2023, ao passo que a transação de casas usadas desceu 22,6%, observando uma diferença de 15,3 pontos percentuais. Importa recordar que, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, as casas usadas representam a maioria das habitações transacionadas no nosso país (cerca de 80%), sobretudo porque tendem a ter preços mais acessíveis e compatíveis com os salários das famílias. Assim, o elevado custo de vida tenderá a impactar mais os bolsos e as decisões de quem compra casas usadas, ajudando a explicar a maior redução na venda de habitações deste tipo.

 

Fonte: Idealista/news