Descida da Euribor perdeu força em fevereiro. E BCE continua cauteloso em debater a descida das taxas de juro diretoras.
As taxas Euribor continuam a abrandar, embora lentamente. E esta é uma reação do indexante à manutenção dos juros diretores pelo Banco Central Europeu (BCE) por três reuniões consecutivas. Há, contudo, uma questão que as famílias querem ver respondida: quando é que a Euribor vai descer ainda mais e reduzir de forma expressiva as prestações da casa? Tudo depende das próximas decisões do BCE, nomeadamente sobre as descidas dos juros diretores. A presidente Christine Lagarde continua a não se comprometer com cortes nas taxas de juro, sublinhando que o regulador precisa de estar “confiante” de que a inflação desça até aos 2% “de forma sustentável”.
Muitas famílias que estão a pagar um crédito habitação a taxa variável (ou mista em período variável) já estão a sentir os primeiros alívios na carteira, já que a Euribor inverteu a evolução e começou a dar sinais de descida no final de 2023. Por exemplo, a Euribor a 12 meses fixou-se em 3,609% em janeiro deste ano, uma taxa bem inferior à registada em outubro passado 4,16%. Além deste recuo da Euribor espelhar a manutenção dos juros diretores por parte do regulador europeu, também “reflete as expetativas do mercado de que o BCE poderá começar a reduzir as taxas de juro já em abril e de que avançará com vários cortes nas taxas este ano”, explica David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, ao idealista/news.
Mas em fevereiro está-se a sentir que “a descida da Euribor perdeu força, uma vez que os mercados têm vindo a adiar o calendário previsto para a descida das taxas de juro”, comenta David Brito. Em fevereiro, a Euribor a 12 meses tem flutuado entre 3,5% e 3,7% na sua taxa diária, pelo que se antecipa que a taxa mensal ficará em torno de 3,6% e, portanto, em níveis muito próximos de janeiro.
Euribor a 3, 6 e 12 meses: como evoluiu nos últimos anos?
As taxas Euribor em fevereiro deverão descer ligeiramente ou até mesmo manter-se estáveis nos atuais níveis. E isto deve-se à resistência do BCE em discutir os primeiros cortes de juros diretores. A presidente do regulador Christine Lagarde tem vindo a sublinhar que o Conselho de Governadores “tem de estar mais confinante” no abrandamento da inflação até ao objetivo dos 2% para poder baixar as taxas de juro, apesar dos “números encorajadores” sobre os salários, que afastaram a possibilidade de o aumento de rendimentos gerar uma nova espiral inflacionista.
Por tudo isto, o mais expectável é que o BCE volte a deixar as taxas de juro diretoras inalteradas na próxima reunião que se vai realizar no próximo dia 7 de março. E só quando o BCE iniciar a flexibilização da sua política monetária é que as famílias poderão esperar maiores descidas da Euribor e, por conseguinte, das prestações da casa.
Quando é que o BCE vai descer os juros diretores?
À medida que o processo de desinflação segue caminho na zona euro e a atividade económica abranda, o debate nos mercados financeiros centra-se na data em que o BCE começará a reduzir as taxas de juro. Há quem diga que o primeiro corte dos juros vá ocorrer em abril, mas também há quem aponte junho como uma data provável.
O diretor-geral da Ebury Portugal acredita que “o BCE terá de inverter a sua política monetária em algum momento deste ano e que poderá começar a reduzir as taxas na primavera, uma vez que os últimos dados económicos assim o justificam: a inflação subjacente continua a cair e a economia da zona euro parece encontrar-se em recessão técnica”. Neste sentido, “consideramos bastante provável que o primeiro corte das taxas seja feito em abril”, caso não haja uma subida inesperada da inflação, pelo que “a Euribor poderá começar a descer significativamente a partir de abril, quando o mercado descontar a primeira descida das taxas”.
Já Christine Lagarde empurrou os primeiros cortes dos juros para o verão e considerou “prematuro” antecipar as reduções para antes dessa data, assumindo um discurso cauteloso sobre este tema e reiterando que todas as decisões do regulador dependem dos dados económicos. Também o membro do Conselho do BCE, Robert Holzmann, sublinhou recentemente que o regulador “quer apenas um pouco mais de confiança antes de darmos esse passo muito importante de começar a cortar as taxas de juros”. O também governador do Banco Nacional da Áustria considerou ainda pouco provável que o BCE comece a descer os juros antes da Reserva Federal dos EUA, até porque a atual crise no Mar Vermelho representa riscos para a inflação por via da subida dos preços dos combustíveis.
Taxa de refinanciamento do BCE: como está a evoluir?
Mas a manutenção dos juros diretores do BCE nos níveis mais elevados dos últimos 15 anos pode continuar a criar danos nas economias europeias. O alerta é dado pelo ministro das Finanças português, Fernando Medina: “Creio que os sinais do abrandamento económico, da estagnação económica, que hoje é visível numa parte muito importante dos países europeus, são muito claros […], por isso, quanto mais tempo se prolongar um regime de taxas de juro muito elevadas, maiores são os riscos de aqueles que estão em recessão poderem ver aprofundada das suas recessões e aqueles que estão estagnados poderem ver a passagem para um estado de recessão”.
Também o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, veio a público dizer que é preferível um corte nos juros mais cedo e gradual, que mais tarde e abruptamente, considerando uma redução em passos de 0,25 pontos percentuais uma “boa métrica”. Neste sentido, Mário Centeno diz ser “totalmente favorável aos cenários de gradualismo”, uma vez que é preciso “dar tempo aos agentes económicos para se adaptarem às decisões”.
O que é certo é que o BCE agora debate-se com a reta final na luta contra a inflação, que é provavelmente a mais difícil, sobretudo, tendo em conta o contexto internacional marcado por conflitos armados na Ucrânia e no Médio Oriente. É por isso mesmo que o BCE tende a abordar a questão dos cortes de juros com cautela, o que poderá levar o regulador a seguir um ritmo de flexibilização mais moderado do que o atualmente esperado pelos mercados.
“Naturalmente, um início mais tardio do ciclo de flexibilização do BCE atrasará o momento em que a Euribor começará a cair significativamente. Podemos vir a assistir a alguns aumentos da taxa diária da Euribor, mas esperamos que, em média, o indicador continue a descer nos próximos meses. Em suma, prevemos atualmente que a Euribor se situe em torno dos 3% no final de 2024”, conclui David Brito, da Ebury Portugal.
Fonte: Idealista/news