8 de Janeiro, 2024 gcoelho

Novos créditos habitação: juros estabilizam nos 4,2% desde junho

Taxa mista já representa 66% dos novos contratos. E a taxa de juro tem vindo a aproximar-se da média da área euro (4,05%).

Juros no crédito habitação
Foto de Karolina Grabowska no Pexels

A procura de crédito habitação em Portugal tem vindo a adaptar-se à subida a pique dos juros. Se antes a taxa variável (e indexada à Euribor) era a mais contratada, agora as famílias estão a optar mais pela taxa mista, representado já 66% dos novos empréstimos para a compra de habitação própria e permanente. E estas escolhas acabam por influenciar a taxa de juro média dos novos contratos de crédito habitação, que se tem mantido estável nos 4,2% desde junho. Esta estabilidade (e não só) está a refletir-se no montante de novos créditos habitação, que registou um novo recorde de 2 mil milhões de euros em novembro.

“A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação foi de 4,24% em novembro (4,23% em outubro). Esta taxa tem-se mantido relativamente estável desde junho e tem vindo a convergir com a média da área do euro (4,05% em novembro)”, começa por explicar o Banco de Portugal (BdP) na nota publicada esta sexta-feira, dia 5 de janeiro. De notar que a taxa de juro dos novos empréstimos em Portugal é superior à média da área euro para habitação desde outubro de 2022.

Depois de se manter em mínimos históricos entre 2021 e janeiro de 2022 (em torno dos 0,8%), a taxa de juro média dos novos créditos habitação deu o salto por via da subida da Euribor, uma vez que nesse período a taxa variável continuava a representar a maioria dos novos contratos. E subiu tanto e tão rápido que em maio de 2023 ultrapassou a fasquia dos 4%, mantendo-se desde então nesse nível. É preciso recuar a 2011 e 2012 – ao rescaldo da última crise financeira – para encontrar juros tão elevados nos novos empréstimos da casa.

Taxa mista: adesão continua a aumentar

O que também salta à vista é que a taxa mista ganhou cada vez mais adeptos ao longo de 2023, passando a representar, desde agosto, a maioria dos novos empréstimos para a compra de habitação própria e permanente – que representa 90% das finalidades.

E a tendência está para ficar. “Em novembro, os novos empréstimos à habitação com taxa mista – isto é, empréstimos com taxa de juro fixa num período inicial do contrato, seguido de um período de taxa variável – representaram 66% do montante de novos empréstimos à habitação”, aponta ainda o regulador português.

Isto acontece porque, em novembro, a taxa variável (4,84%) continuou a ser bem superior à taxa fixa (4,32%) nos novos créditos habitação – já o é desde maio de 2023. Este facto ajuda a explicar o porquê de as famílias optarem pela taxa mista: num primeiro momento pagam o crédito a taxa fixa (mais acessível), seguido de um período de taxa variável (valor que só será conhecido no futuro).

Já quem continua a optar pela taxa variável – que ainda representa 28% do montante total de novos créditos em novembro – está a contratar mais a Euribor a 6 meses (41%), seguida da Euribor a 12 meses (39%) e da Euribor a 3 meses (18%). De notar que, antes, era a Euribor no prazo mais longo a mais contratada, e os dados mais recentes revelam que é esta taxa que está a descer mais rápido desde novembro até agora.

Novos créditos habitação em Portugal por tipo de taxa

Apesar de as famílias continuarem a adaptar a contratação do crédito habitação ao atual contexto económico, o que salta à vista é que tanto as taxas fixas como as variáveis têm vindo a aumentar – embora a menor velocidade. E esta tendência tem vindo a elevar a prestação da casa. “A prestação média mensal dos créditos à habitação continuou a aumentar, passando de 417 euros em outubro para 422 euros em novembro. Metade dos créditos à habitação própria permanente tinha, em novembro, uma prestação igual ou superior a 353 euros”, salienta ainda o BdP governado por Mário Centeno.

Montante de novos créditos habitação atinge novo máximo

O que também salta à vista é que o montante de novos créditos habitação em Portugal subiu de quase 1,9 mil milhões de euros em outubro para 2 mil milhões de euros em novembro, o maior valor na série disponível pelo BdP que remonta a janeiro de 2003. Trata-se de uma subida de 161 milhões de euros.

Mas o que é que explica este novo recorde de novos créditos habitação em novembro, num momento de altas taxas de juro? A questão é que não se sabe ao certo qual é o valor a que se destina a aquisição ou transferência de crédito, sendo que apenas se sabe qual é o montante de renegociações no próprio banco.

Por isso, este aumento do montante dos novos créditos habitação pode estar relacionado com as transferências de crédito e não com novas aquisições. Até porque, hoje, vários bancos em Portugal estão a oferecer condições especiais na transferência de empréstimos, não cobrando as despesas com a abertura do processo e a avaliação do imóvel, e oferecendo spreads atrativos.

 

Fonte: Idealista/news