
Comprar casa está cada vez mais difícil em Portugal, dados os elevados preços das habitações, altas taxas de juro e baixo poder de compra. E esta realidade também é bem visível do outro lado do Atlântico, nos EUA. Ali, quem procura a sua primeira casa “tem hoje muita dificuldade em entrar no mercado imobiliário”, que “desacelerou” devido ao aumento dos juros nos créditos habitação. Este é o estado geral do mercado residencial norte-americano aos olhos Kenny Parcell, presidente da National Association of Realtors (NAR), uma associação de agentes imobiliários no país. Mas, garante em entrevista ao idealista/news, que “o agente imobiliário americano adapta-se a tudo e está na vanguarda de todas as tecnologias”, tirando vantagens desde o ChatGPT à Inteligência Artificial (IA).
Tem uma vasta experiência no mercado residencial norte-americano… qual é a importância de ter um agente imobiliário para vender uma casa?
Para os compradores de hoje, a maioria recorre a um agente imobiliário que os ajude a entender o processo, aponte características despercebidas num imóvel e os ajude a ampliar suas áreas de pesquisa. E no caso dos vendedores, o mais importante é ter um agente que os ajude a definir um preço competitivo para a casa, dá-la a conhecer aos potenciais compradores e vendê-la num determinado prazo.
A profissão de agente imobiliário profissionalizou-se na última década?
Um dos principais fatores que se mantiveram constantes na última década é a reputação dos agentes imobiliários, a sua honestidade e fiabilidade. O comprador e o vendedor estão a realizar as transações financeiras mais importantes das suas vidas e desejam ter alguém em quem possam confiar.

Quais são as principais diferenças entre uma imobiliária hoje e há 20 anos?
O agente imobiliário teve que se adaptar e se tornar num profissional mais dinâmico. O mercado imobiliário mudou e tanto os compradores como os vendedores adaptaram-se às tecnologias mais recentes. Por esta razão, os agentes imobiliários têm melhorado as suas competências profissionais para mostrar casas tanto em ambientes virtuais, como presenciais.
Como funciona a profissão de agente imobiliário nos Estados Unidos? Uma casa pode ser vendida de particular para particular ou é obrigatório que um agente imobiliário faça a mediação da operação?
No ano passado, só 10% das casas foram vendidas mediante a “venda pelo proprietário”, enquanto 87% foram vendidas com a ajuda de um agente imobiliário. Metade dos que venderam de forma independente, fizeram-no porque estavam a vender o imóvel a alguém conhecido, como um amigo, familiar ou vizinho.
O negócio imobiliário dos EUA é disruptivo?
O mundo imobiliário está cheio de “disruptores”, aqueles que mudam o jogo imobiliário. Há vinte anos, os anúncios imobiliários eram publicados nos livros da MLS dos escritórios imobiliários, impressos semanalmente, e nos jornais. Esses elementos de marketing foram substituídos pela Internet, montagem de casas virtuais e pelas visitas virtuais. Os disruptores geralmente geram inovação.
“Nos EUA, 9 em cada 10 pessoas recomendariam o seu agente imobiliário”
Vemos nos filmes que o típico agente imobiliário é um “tubarão” de negócios. O que é que um bom agente imobiliário nos Estados Unidos deve ter?
Nove em cada dez pessoas voltariam a contactar o seu agente imobiliário ou recomendariam-no a outras pessoas. A principal forma de os compradores e vendedores encontrarem seu agente é por via de referências pessoais. Pouco depois de comprar e vender, o consumidor médio recomendou o seu agente imobiliário a outras pessoas.
Os corretores imobiliários nos Estados Unidos estão a começar a usar a Inteligência Artificial (IA)?
Sim, alguns agentes estão a adotar o ChatGPT para ajudar no marketing e nos anúncios das casas. Outros estão a usar a IA para mostrar como uma casa poderia ser reformada ou como poderia ser construída uma nova piscina. O agente imobiliário americano adapta-se a tudo e está na vanguarda de todas as tecnologias.
Falando do cliente americano… que tipo de produto imobiliário está a ser mais procurado atualmente?
Hoje em dia, a casa mais comprada nos Estados Unidos é uma casa unifamiliar nos bairros periféricos.

Em plena pandemia da Covid-19, as famílias passaram a procurar casas com áreas exteriores. Os pedidos mudaram nos EUA no meio da pandemia?
Sim, a pandemia da Covid-19 gerou a necessidade de muitos terem áreas exteriores, como jardins. A popularidade destes espaços manteve-se ao longo do tempo. Algumas famílias procuram os bairros periféricos dos EUA pela sua acessibilidade, outros por menos deslocações devido às tendências de trabalho remoto e híbrido.
Como está o negócio de compra e venda de casas nos Estados Unidos atualmente?
O aumento das taxas de juros nos créditos habitação desacelerou o mercado imobiliário no ano passado. No entanto, estima-se que aproximadamente cada casa à venda recebeu mais de três ofertas e foi vendida em menos de um mês. O comprador típico enfrenta uma escassez de oferta de casas. Deve-se notar também que nem todos os mercados são iguais e existem variações regionais, bem como diferenças de preços.
“O mundo imobiliário está cheio de ‘disruptores'”
Um português de classe média enfrenta cada vez mais barreiras para adquirir casa própria. Está a acontecer o mesmo nos Estados Unidos?
Quem compra casa pela primeira vez tem hoje muita dificuldade em entrar no mercado imobiliário e o rácio permanece no nível mais baixo dos últimos 41 anos. Historicamente, 40% do mercado de compra de casas era representado por compradores que procuravam a sua primeira casa e hoje o percentual é de 26%. Os compradores têm mais dificuldade em poupar para pagar a entrada da casa e o número de casas a preços acessíveis é limitado. Os proprietários aumentaram muito o valor da sua casa e muitos têm taxas de juros baixas, não estando dispostos a mudar para uma nova casa.
A oferta e a procura de habitação são iguais nos Estados Unidos?
Infelizmente, devido à má construção de casas durante mais de uma década, há mais procura do que oferta nos EUA. Embora a construção de casas tenha acelerado no último ano, será necessária uma construção mais significativa para alcançar um mercado habitacional mais equilibrado.
Fonte: Idealista/news