Apaixonada pelo mundo da decoração, Priscila Veríssimo ajuda a tornar as casas mais bonitas e acolhedoras com baixo orçamento.
Viver numa casa bonita e harmoniosa – seja própria ou arrendada – é fundamental. E ter uma casa bonita não significa estar na “moda” ou viver num espaço “instagramável”. A beleza tem várias camadas e significa coisas diferentes para diferentes pessoas. Mas há algo comum a todas: as casas são melhores quando nos garantem bem-estar e permitem viver felizes. E sim, é possível ter uma casa acolhedora, mesmo com baixo orçamento. Essa é a mensagem de Priscila Veríssimo, a criadora da página “Sorry we are open today”. Bastará para isso, diz, tratar a casa como pessoa: cuidá-la, mimá-la, até porque é ali onde vamos construindo a nossa história, sozinhos ou em família, nos dias cheios de luz e alegria, mas também nos mais cinzentos e tristes.
Licenciada em Filosofia, e depois de quase 10 anos a dar aulas, várias circunstâncias, como ser mãe, levaram Priscila a mudar de casa (e de vida) e dedicar-se à decoração – uma paixão que tem desde sempre. Criou a página @sorryweareopentoday nas redes sociais onde se dedica a partilhar muitas dicas de inspiração e ideias para decorar a casa sem gastar muito dinheiro.
Nem sempre é necessário gastar fortunas ou comprar coisas novas para decorar ou mudar uma casa. Apostar em objetos reutilizados, herdados, ou até em segunda mão, pode ser uma boa solução na hora de “vestir” um espaço. Nem sempre é fácil aliar a estética à funcionalidade, ou seja, a função decorativa de um objeto ou móvel pode desfavorecer a arrumação e organização de uma casa – e esse é um dos principais erros a evitar.
Priscila acredita que é importante tratar a casa como pessoa, até porque ela “reflete a nossa personalidade e tratar dela, enfeitar, limpar, organizar, mimar a casa com coisas bonitas é de certa forma investir no nosso bem-estar”. “O que mais me apaixona no mundo da decoração é a forma como tornar um espaço mais bonito pode alterar a minha disposição e me tornar mais feliz”, salienta.
Nesta entrevista escrita para o idealista/news, explica onde vai buscar inspiração para os seus projetos e dicas no mundo da decoração e design de interiores, aponta algumas tendências do momento, e como é possível remodelar e transformar uma casa com um orçamento reduzido.
Quando e como surgiu a ideia de criar o “Sorry we are open today”? Qual é a sua abordagem?
A ideia surgiu numa altura em que estava a mudar de casa, inicialmente o objetivo era apenas procurar inspirações. Esse processo de decorar uma casa nova com um orçamento reduzido acabou por ser o mote para as partilhas que comecei a fazer.
Na sua página de instagram, quer mostrar “que é possível ter uma casa acolhedora com baixo orçamento”. Por onde se deve começar?
Baseada na minha experiência, posso dizer que a primeira coisa a fazer é olhar para o que já temos e antes de as excluirmos da decoração para comprar algo novo, tentar perceber se lhes podemos dar uma nova vida, uma nova cara, seja com pintura ou acrescento de detalhes. Posteriormente usufruir da versatilidade de algumas peças, por exemplo, um carrinho de cozinha pode transformar-se numa estante de livros, ou uma mesa de apoio.
A primeira coisa a fazer é olhar para o que já temos e antes de as excluirmos da decoração para comprar algo novo
Quais são os (principais) erros a evitar? Em termos de decoração e organização dos espaços…
Considero que nem sempre seja uma tarefa fácil a de aliar estética à praticidade e aí reside o erro. Não pensar na funcionalidade de um móvel, ter apenas em conta a sua função decorativa pode não favorecer a questão da organização, que na minha opinião é parte fundamental de uma casa. Um espaço arrumado onde há locais para guardar o que necessitamos e nada fica sem arrumação é um espaço mais harmonioso.
O que é que mais a apaixona no mundo de decoração?
O que mais me apaixona no mundo da decoração é a forma como tornar um espaço mais bonito pode alterar a minha disposição e me tornar mais feliz. Às vezes são gestos simples como colocar uma jarra com flores, que altera a maneira como me sinto dentro de casa.
Devemos tratar a “casa como uma pessoa”? Por quê?
A casa é uma parte de nós, onde criamos memórias. O local onde nos recolhemos, para onde regressamos ao fim de dias felizes ou difíceis. A nossa casa reflete a nossa personalidade e tratar dela, enfeitar, limpar, organizar, mimar a casa com coisas bonitas é de certa forma investir no nosso bem-estar.
E o que é que uma “casa com alma” tem de ter?
Quando pensamos numa casa com alma, pensamos numa casa com vida, no fundo nós que a habitamos somos a alma das casas, e por isso a casa deve ser à medida do nosso gosto e da nossa personalidade. Ter fotografias de família, elementos da natureza, muita luz, objetos que tragam boas memórias, tudo fará parte da alma da casa de cada um. As casas não são todas iguais e cada uma tem a sua alma de acordo com quem a habita e as suas histórias.
A casa é uma parte de nós, onde criamos memórias. O local onde nos recolhemos, para onde regressamos ao fim de dias felizes ou difíceis.
Onde vai buscar inspiração para os seus projetos e dicas? Tem algum estilo preferido?
Consigo apreciar vários estilos tão distintos e talvez ainda esteja a descobrir o meu. Não gosto muito de encaixar a minha casa num estilo, mas tenho uma tendência para trazer a natureza para dentro de casa, flores naturais, frescas ou secas, plantas, entre outros elementos que vou buscar para os meus diy’s. Gosto do aconchego que as madeiras me trazem, padrões florais, os meus livros perto de mim, acima de tudo quero que a minha casa seja ao estilo do que me faz sentir bem. A natureza, o sentir-me conectada com ela é sem dúvida o que mais me inspira.
Depois da pandemia muita coisa mudou. Como é que a decoração e design de interiores podem ajudar-nos a viver melhor?
Mesmo antes da pandemia, sempre passei muito tempo em casa, porque fui mãe e porque adoeci, e isso permitiu-me viver a minha casa. Durante e mesmo depois da pandemia passamos a olhar a casa de outra forma, tivemos mais tempo para pensar nela e na forma como ela nos serve. Tenho a convicção de que os espaços influenciam a nossa vida, a nossa produtividade a até a nossa saúde e nesse sentido sim, a decoração de interiores pode fazer diferença e mudar vidas para melhor, ao despertar emoções.
E quais são as grandes tendências do momento?
Penso que nunca quisemos tanto abrandar o ritmo alucinante dos dias como agora, e consequentemente os tons neutros e as texturas aconchegantes ganharam espaço nas tendências. Porém, rodeados de tanta informação e inspiração, é natural que misturemos elementos tendência de acordo com o gosto pessoal. O importante é tornar as tendências nossas. Temos cada vez mais preocupações ecológicas e a sustentabilidade constitui um aspeto importante nos nossos dias, na nossa casa. Ressignificar objetos, reutilizar, reciclar são gestos que se transformaram numa tendência também.
Podemos cair no erro de querer ter uma casa instagramável em vez de ter uma casa com vida, adoptar tendências que não se adequam às nossas necessidades e podem estar desajustadas ao que somos.
Como vê a utilização de objetos reutilizados, herdados, mas também comprados em segunda mão, por exemplo? Quais faz mais sentido habitualmente usar na decoração de uma casa e de que forma funcionam melhor?
Sendo essa a abordagem das minhas partilhas nas redes sociais a de mostrar que não precisamos gastar demasiado para ter uma casa bonita, sou totalmente a favor. Acaba por ser uma forma económica de decorar. Muitas vezes encontramos em segunda mão uma peça que desejávamos, mas não podíamos comprar. As peças herdadas remetem-nos para uma memória afetiva e desde que se harmonizem com a nossa casa não há nenhum problema. Esta será a regra, encaixar com o que já temos de forma a que se crie um espaço onde essa mistura funcione esteticamente.
Hoje em dia, o instagram é uma ferramenta de trabalho e de inspiração? Quais as vantagens e desvantagens?
No que toca à decoração, as inspirações e dicas estão por todo o lado e chegam até nós de forma rápida e isso é uma vantagem desta era. No entanto, podemos cair no erro de querer ter uma casa instagramável em vez de ter uma casa com vida, adoptar tendências que não se adequam às nossas necessidades e podem estar desajustadas ao que somos. Temos sobretudo que criar um espaço que nos faz sentir bem e felizes acima de qualquer tendência ditada pelas casas que vemos nas redes sociais.
Fonte: Idealista/news