Construção de “casas maiores e de qualidade” floresce em Portugal

E agora constrói-se mais em aço leve e menos em cimento, aponta o diretor da Leroy Merlin PRO em entrevista ao idealista/news.

construção está em constante mudança. Há novos materiais a surgir no mercado. A sustentabilidade está a ganhar força. E há novas formas de construir a emergir. A par de tudo isto, a fileira do imobiliário e da construção vai-se também adaptando ao atual contexto económico, lidando com a subida dos preços dos materiais, a falta de mão de obra e maiores custos de financiamento. E também está a adaptar-se às novas exigências da procura. “Hoje, há uma procura de habitações de maior dimensão, associada àquilo que é a transformação da nossa economia no momento e da melhoria dos próprios materiais”, partilha Pedro Cabral, diretor do projeto PRO da Leroy Merlin, em entrevista ao idealista/news, sublinhando que, agora, há a necessidade de “construir com qualidade, com bons isolamentos e produtos duradouros”.

Haverá sempre necessidade de assegurar a manutenção da casa. Se a torneira está a pingar, há que repará-la. E se uma janela se danificar, há que substituí-la. Também fazer obras em casa, para lhe dar uma nova vida, vai continuar a ser tendência. “Não é preciso trocar de casa, pois basta às vezes recuperar e a casa fica nova”, considera Pedro Cabral, que falou com o idealista/news durante o Salão Imobiliário de Portugal (SIL), que decorreu entre 4 e 7 de maio, em Lisboa.

No que toca à construção de casas novas, “o que é necessário é adaptar aquilo que é a procura. Hoje, existe alguma basculação para uma procura de áreas maiores, de casas de mais generosas e, porventura, de valores um bocadinho mais altos”, adianta o responsável pela Leroy Merlin PRO. Esta tendência surge associada à “transformação económica” atual, bem como à melhoria dos materiais de construção, em termos de qualidade e sustentabilidade.

A par de tudo isto há novos modos de construção a ganhar força no mercado. “Hoje constrói se menos em cimento e mais em light steel framing, que é aço aligeirado, que é uma construção diferente, mas ao mesmo tempo também é mais sustentável”, explica ainda Pedro Cabral.

É neste contexto de transformação do setor da construção que a Leroy Merlin procura “mitigar o impacto da inflação”, absorvendo o seu reflexo nos preços dos materiais, apostar em materiais e práticas mais sustentáveis e também no acompanhamento das obras (e dos seus custos) junto de profissionais, tal como explica Pedro Cabral, diretor do projeto PRO da Leroy Merlin, em entrevista ao idealista/news para ler em seguida.

Construir casas em Portugal
Pedro Cabral, diretor do projeto PRO da Leroy Merlin Foto de Frederico Weinholtz para o idealista/news

Como está hoje o negócio da bricolage, decoração e construção em Portugal?

O negócio está a correr bem. Pode-se dizer que sim, com a sua produção normal. A Leroy Merlin tem três áreas em que toca os clientes, ou seja, naquilo que é novo, seja naquilo que é recuperação, seja naquilo que é manutenção. Portanto, adapta-se com alguma facilidade à alteração dos agentes económicos à volta.

Há tendências que surgiram durante a pandemia que ainda se sentem no negócio da Leroy Merlin?

Sim, a transferência para o multicanal é uma tendência que é irreversível, portanto, vai ser cada vez maior. A orientação do cliente para a sua própria casa é algo que nos agrada bastante e tem impacto naquilo que é o habitar positivo.

“Muitas vezes o reflexo [da inflação] até é absorvido por nós e não passa diretamente para o cliente”

Como é que a Leroy Merlin está a lidar com a alta inflação, que acelerou a subida dos preços dos materiais de construção? Sentiu algum impacto na procura de materiais e serviços?

A Leroy Merlin, como empresa responsável que é, procurou – e procura -sempre mitigar o impacto da inflação. Portanto, muitas vezes o reflexo até é absorvido por nós e não passa diretamente para o cliente. Só mesmo no modelo de negócio é que temos de ajustar preços. Portanto, procuramos de alguma forma reduzir isso ao máximo, faz parte da nossa responsabilidade. A procura dos materiais mantém-se. Há alguma transferência, mas tem a ver com modos de construção diferentes. Portanto, hoje constrói se menos em cimento e mais em light steel frame, que é aço aligeirado, que é uma construção diferente, mas ao mesmo tempo também é mais sustentável.

Têm apostado em materiais mais sustentáveis? Como está a procura a este nível?

As casas eficientes vão ser, cada vez mais, necessárias. Uma coisa é numa construção nova: hoje as pessoas já estão muito sensibilizadas para isto. Outra coisa é naquilo que é a recuperação. O primeiro passo para termos uma casa eficiente é a sua orientação solar, é estar orientada a sul, e aí nós não temos influência, em tudo o resto nós temos. Portanto, hoje uma casa é responsável por mais de 40% das emissões que são colocadas na atmosfera (12% na sua construção, 28% na sua manutenção). Nós não só procuramos matérias-primas que ajudam a ter uma casa passiva, como trabalhamos o “upskilling” e “reskilling “das nossas equipas para ajudar na aplicação destes materiais.

Apoio à construção de casas
Leroy Merlin

Porque é que decidiram criar a Leroy Merlin PRO há cerca de ano e meio? Sentiram alguma necessidade de acompanhamento por parte dos profissionais?

Hoje, os profissionais precisam em primeiro lugar da disponibilidade do produto, da agilidade de compra e de um preço justo. Portanto, nós o que fizemos foi alargar a gama e alargar a disponibilidade de produto. Hoje, o cliente profissional desloca-se à loja e quer chegar, comprar e sair. Portanto, hoje temos lojas adaptadas, com caixas rápidas exclusivas para profissionais. E temos uma equipa dentro da loja identificada em que o cliente profissional se pode dirigir para retirar todo o tipo de informações que precisa para as suas obras.

Além disso, criámos uma série de outras áreas, como por exemplo o assessor de projeto ou do gestor de conta, que são duas equipas, uma interna ou outra que anda na rua de acompanhamento dos clientes profissionais. Seguem os clientes em todas as fases da obra, acompanham em tudo o que é orçamentação e em tudo o que é preparação de pedidos e entrega de pedidos. É muito frequente um profissional, por vezes, ver que falta determinado produto ou acessório e o trabalho destas equipas passa precisamente por garantir que os profissionais têm tudo o que é necessário e no tempo certo para a conclusão da obra.

“Os profissionais precisam em primeiro lugar da disponibilidade do produto, da agilidade de compra e de um preço justo”

Quem são os profissionais de construção que mais procuram a vossa ajuda?

O profissional, hoje, é muito vasto, é muito alargado, onde nós nos focamos mais no micro, pequeno e médio construtor, embora tenhamos também alguns projetos de grande construção. E focamo-nos nos especialistas, no carpinteiro, o eletricista, o canalizador, o soldador. No caso de um construtor, o acompanhamento é mais alargado, pois estamos a falar de alguém que vai construir uma vivenda completa ou alguém que vai construir um edifício já com dois, três, cinco andares ou até mais. Depois temos os especialistas, que são os subcontratados que trabalham com estes construtores nas especialidades.

Qual é o feedback que tem recebido por parte destes profissionais? Há alguma poupança final nas obras?

Os profissionais estão muito satisfeitos com este serviço, de tal forma que começou por ser uma equipa de seis pessoas e já cresceu para 20 trabalhadores. Este ano já devemos terminar com mais de 60 pessoas, exclusivamente dedicadas a este cliente profissional.

Há grandes benefícios e grande economia de escala, porque o profissional consegue comprar connosco tudo aquilo que necessita, desde o início até ao fim do projeto. Isso ajuda muito, por ter apenas um só interlocutor. Depois, não precisa de se deslocar pessoalmente à loja, porque nós temos uma linha de crédito, podendo ir um colaborador dele à loja e levantar a mercadoria. Portanto, do ponto de vista da agilidade, é muito maior. Do ponto de vista do controlo de custos é a mesma coisa, porque nós fazemos resumos e eles sabem exatamente qual é o valor da obra em cada fase.

Obras em casa
Leroy Merlin

Que tendências é que antecipa na área da bricolage, decoração e construção?

Eu acho que as tendências que nós antecipamos para aquilo que é um futuro, seja de curto prazo, seja de médio prazo, são sempre associadas àquilo que é a responsabilidade social e ambiental. Do ponto de vista de responsabilidade social, nós procuramos não só vender produto, mas vender o produto ideal aquele que será mais duradouro, com menor impacto no ambiente e que identifique melhor aquilo que é necessidade do cliente. Essas são as tendências.

Depois a parte da construção, hoje temos uma determinada basculação de um determinado tipo de construções de habitações mais pequenas, para habitações de maior dimensão. Portanto, há uma procura de habitações de maior dimensão, também associada àquilo que é a transformação da nossa economia no momento e da melhoria dos próprios materiais. Já não será só construir muito rapidamente para satisfazer uma necessidade, mas sim construir com qualidade, com bons isolamentos, com produtos duradouros.

Leroy Merlin tem também trabalhado aquilo que é o marketplace, a venda de produtos em segunda mão, trabalhar como uma plataforma onde o cliente pode encontrar as diversas ofertas para satisfazer uma necessidade e não apenas uma questão transacional.

“Existe alguma basculação para uma procura de áreas maiores, de casas de mais generosas e, porventura, de valores um bocadinho mais altos”

Como é que também antecipa a evolução do mercado de construção e do imobiliário no atual contexto de inflação e subida de juros?

A manutenção tem sempre de existir: se a torneira está a pingar, ela tem de ser substituída ou reparada. Aquilo que é a recuperação: não é preciso trocar de casa, pois basta às vezes recuperar e a casa fica nova. Depois, há a habitação nova. Houve uma forte saída de licenças de construção antes da pandemia. No período de pandemia, houve alguma retração e agora está novamente a evoluir. Mas as licenças não foram todas construídas, portanto, autorização para construção há muita.

O que é necessário é adaptar aquilo que é a procura. Como comentava, existe alguma basculação para uma procura de áreas maiores, de casas de mais generosas e, porventura, de valores um bocadinho mais altos. Esta é a procura que existe hoje no mercado.

Portugal caminha, de repente, para ser a Florida da Europa. Tem todas as condições para ter um determinado tipo de cliente, que vai fazer crescer o nosso país, a nossa economia e, associado a isso, a área da construção, mas com materiais melhores, com áreas mais alargadas, com superfícies partilhadas no cohousing, entre as pessoas que habitam a casa durante a noite e as que habitam durante o dia. Com homeworking, há muito para trabalhar à volta daquilo que é a habitação e isso deixa-nos numa perspetiva de otimismo moderado, mas deixa nos uma perspetiva forte de otimismo.

Construir casas em Portugal
Leroy Merlin

Qual é, atualmente, a estratégia de posicionamento da marca em Portugal?

O posicionamento da Leroy Merlin passa por procurar um habitat positivo e responsável. Este é o seu posicionamento e este é o seu futuro. Juntamente com as suas extraordinárias equipas tem vindo a conseguir e tem vindo sempre a evoluir dentro do mercado. A vertente da Leroy Merlin Pro está inserida e faz parte do seu crescimento. Portanto, será sempre dentro de uma estratégia de progressão. E vemos que a médio prazo poderá haver uma participação do profissional, quase 50%-50% entre aquilo que é o cliente particular e aquilo que é o cliente profissional.

“É possível que existam no futuro lojas de construção, aliás, estamos a fazer um teste em Sintra com uma loja mais orientada para o profissional”

A Leroy Merlin tem planos para crescer mais em Portugal?

Temos sempre uma perspetiva de crescimento. Esse faz parte natural daquilo que é o nosso negócio, seja ele online ou offline. Todo o investimento que fizemos no online está a ter os seus resultados. Estamos a criar um site só para os profissionais. E mesmo na parte física vamos abrir um entreposto muito grande que vai servir toda a nossa área. É possível que existam no futuro lojas de construção, aliás, estamos a fazer um teste em Sintra com uma loja mais orientada para o profissional e para lhe resolver todas as suas necessidades imediatas de obra e é possível que haja uma desmultiplicação desses testes. Portanto, crescer faz parte do nosso ADN.

 

Fonte: Idealista/news