1 de Maio, 2023 Lucas Lopes

Norte-americanos concentram 67% do investimento imobiliário em Portugal e são os estrangeiros que mais crescem na compra de casas

Cidadãos dos EUA representaram 15% do total de casas compradas por estrangeiros em Portugal no ano passado, continuando em tendência de crescimento em 2023

O crescimento do turismo norte-americano em Portugal já está a ter impacto direto na compra de casas, e a oferta deve adaptar-se a este tipo de procura. É uma das conclusões do debate ‘Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal/EUA’ , que decorreu esta sexta-feira em Lisboa, promovido pelo Grupo Pestana e a Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham).

“Os norte-americanos são um investidor fortíssimo no segmento residencial, estamos claramente no seu radar”, realçou Patrícia Barão, diretora do departamento residencial da consultora JLL Portugal, lembrando que no ano passado foram transacionadas 170 mil casas no país, 6% das quais a estrangeiros. “Os norte-americanos já representam 15% das transações [envolvendo estrangeiros], são o mercado externo de maior crescimento, é a prova viva sua apetência por comprar casa em Portugal”, comentou Patrícia Barão.

Os preços mais competitivos e a valorização do dólar são aspetos destacados pela responsável da JLL para este crescimento. “Temos clientes americanos que venderam os seus imóveis na Florida, compraram uma casa em Cascais, e dizem que com a diferença podem viver confortavelmente o resto da vida”, referiu.

Cerca de 40% das casas compradas por cidadãos norte-americanos localizam-se em Lisboa, 13% no Algarve e 9% no Porto”, destacando-se “um enorme potencial de crescimento em outras regiões, mas é preciso haver uma oferta que encaixe nesse perfil de procura”, salientou Patrícia Barão.

Comprar casa em Portugal “é um belíssimo negócio para norte americanos”, e a sua principal motivação tem sido a de comprar uma residência para viver, potenciada pelo atual cenário de trabalho remoto, e não só uma casa para férias.. “A principal razão é que querem viver em Portugal, apaixonam-se pela beleza da qualidade de vida que tiram de viver num país como o nosso, e que nós portugueses muitas vezes não valorizamos”, referiu Patrícia Barão. “Procuram sobretudo uma casa para a família, e querem colocar as crianças em colégios americanos, que nós cá também temos”, acrescentou.

“Temos clientes americanos que venderam os seus imóveis na Florida, compraram uma casa em Cascais, e com a diferença podem viver confortavelmente o resto da vida”, diz Patrícia Barão, diretora da JLL

“Os EUA já são a nacionalidade que mais investe em imobiliário comercial em Portugal”, frisou ainda a diretora da JLL, lembrando que o investimento norte-americano neste campo ascendeu no ano passado a 1,15 mil milhões de euros, 33,7% do total investido no país. “E no primeiro trimestre de 2023, os norte-americanos já representaram 67% do investimento imobiliário realizado no país”, salientou.

VISTOS GOLD NÃO SÃO DECISIVOS: “OS AMERICANOS PAGAM SEMPRE IMPOSTOS NOS EUA ONDE QUER QUE ESTEJAM”

A nível de potencial do mercado dos EUA em Portugal, “the sky is the limit” (“o céu é o limite”), destacou na ocasião John Calvão, luso-americano que é gestor do Fundo Arrow, que no ano passado transacionou a norte-americanos “2% de todas as vendas residenciais em Portugal”.

“Somos um grande investidor, já investimos nos últimos anos 1,5 mil milhões de euros em Portugal, e um dos grandes problemas para os norte-americanos investirem é a burocracia e a incerteza, com leis que mudam a cada ano, e o investimento em real estate [imobiliário] não pode ter esta inconsistência”, notou John Calvão, frisando a necessidade de “gerar mais confiança” para atrair investidores norte-americanos.

Questionado sobre o impacto do eventual fim do programa de vistos gold, John Calvão sublinhou que “se um americano decide viver em Portugal não é por razões financeiras, como é para pessoas de outras origens, pois continuam a pagar impostos nos Estados Unidos independentemente de onde estiverem”.

Patrícia Barão pôs a tónica na imagem negativa que passa para o exterior, e em especial para o mercado dos EUA, a difusão de notícias de Portugal associadas ao fim dos vistos gold ou do Programa Mais Habitação. “As medidas não devem ser no sentido de castrar, acabar, proibir, são terminologias que não são boas quando falamos em captar investimento de estrangeiros”, realçou a diretora do segmento residencial da JLL. “Mas os fundamentos do país são tão fortes que não é isto que vai conseguir matar o otimismo que o turismo e o imobiliário têm tido, e continuar esta fase tão boa de crescimento de norte-americanos”.

O crescimento de turistas dos EUA em Portugal, alimentado por uma oferta alargada de voos entre os dois países, está na base deste crescimento de vendas no imobiliário, e segundo lembrou António Martins da Costa, presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham), estes turistas ascenderam no ano passado a 1,5 milhões no país, com um aumento de 27% nas dormidas face a 2019, e que foi “o maior crescimento entre todos os mercados”.

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, salientou que os passageiros dos Estados Unidos foram o primeiro mercado de longa distância para Portugal em 2022, constatando que “o imobiliário é um efeito entre muitas outras áreas” da correlação que se verifica com o aumento de turistas norte-americanos. “Dando um exemplo, a exportação de vinhos para os EUA está a aumentar na mesma proporção em que crescem os turistas-norte-americanos em Portugal”, sublinhou.

Fonte: Expresso.pt