23 de Março, 2023 Lucas Lopes

Venda de casas em Portugal atinge recorde em 2022 apesar da inflação

Preço das casas subiu 12,6% em 2022, tendo registado também um máximo histórico, destaca o INE. Casas novas ganham terreno.

Nada parece travar o negócio das casas em Portugal. Mesmo num contexto de instabilidade económica, alta inflação e de subida dos juros no crédito habitação, o mercado residencial somou recordes em 2022. Quem o diz é o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) revelando que foram transacionadas 167.900 habitações em Portugal durante o ano passado, o que constitui o registo mais elevado de sempre. E também os preços das casas subiram 12,6% em 2022, “a taxa de variação anual mais elevada na série disponível”.

Mesmo com receios gerados pelo atual clima macroeconómico, as famílias continuaram a avançar com a compra de casa em Portugal, de tal forma que foi registado em 2022 o maior número de vendas de sempre. “No ano de 2022 foram transacionadas 167.900 habitações, o registo mais elevado da série disponível”, começa por explicar o INE no boletim publicado esta quarta-feira, dia 22 de março. Estas vendas de casas movimentaram um total de 31,8 mil milhões de euros no mesmo ano.

“Por comparação com o ano anterior, observou-se um aumento de 1,3% no número de transações, o que, excetuando o ano de 2020 fortemente condicionado pelo efeito da pandemia Covid-19, constituiu o menor crescimento no número de transações desde 2012”, informa ainda o gabinete nacional de estatística.

Mas importa salientar que a evolução dos negócios das casas não foi sempre igual ao longo do ano. “Na primeira metade do ano, observou-se um crescimento do número (e do valor) de transações de 14,1% (30,7%, em valor)” face ao ano anterior, explica o INE. Mas na segunda metade do ano a situação “inverteu-se, observando-se uma redução de 9,6% no número de transações (-1,0%, em valor)”, indica ainda. Estes dados sugerem que os efeitos da subida dos juros e da alta inflação só começaram a ser sentidos no mercado nos últimos seis meses do ano.

Os dados relativos ao último trimestre de 2022 provam isso mesmo. Entre outubro e dezembro, foram transacionadas 38.526 habitações, menos 16,0% do que no mesmo período de 2021. Estas vendas de casas movimentaram 7,4 mil milhões de euros, o que representa uma redução de 10,5% face ao mesmo período do ano anterior e “a primeira taxa de variação homóloga negativa desde o primeiro trimestre de 2021”, destaca o INE.

Preços das casas dão maior salto de sempre em 2022

As casas para comprar estão a ficar cada vez mais caras em Portugal – é certo. Agora sabe-se que em 2022 atingiram uma evolução recorde. “Em 2022, o Índice de Preços da Habitação (IPHab) continuou a evidenciar uma dinâmica de crescimento dos preços das habitações transacionadas”, explica o INE. Depois concretiza, que os preços das casas subiram 12,6%, “a taxa de variação média anual mais elevada na série disponível, o que representa um acréscimo de 3,2 pontos percentuais (p.p.) por comparação com 2021”, destaca ainda.

Além disso, a mesma publicação destaca que “o crescimento dos preços das habitações observou-se em ambas as categorias, tendo sido mais intenso nas habitações existentes (13,9%) relativamente às habitações novas (8,7%)”.

Embora a evolução do preço das casas tenha atingido máximos históricos em 2022, na reta final do ano este aumento abrandou. “No quarto trimestre de 2022, o IPHab registou uma taxa de variação homóloga de 11,3%, menos 1,8 p.p. que no trimestre precedente e a taxa mais baixa do ano”, indica o instituto. Também neste trimestre, o aumento do preço das casas usadas foi superior à evolução dos preços das casas novas  (12,7% e 7,1%, respetivamente).

Venda de casas novas ganha expressão em 2022

venda de casas em Portugal bateu recordes em 2022, mediante a transação de 167.900 habitações e a mobilização 31,8 mil milhões de euros, valor esse que se traduz num aumento de 13,1% relativamente a 2021. E o negócio das casas trouxe ainda mais novidades. Ao contrário do que se tem verificado até então, em 2022 a compra de casas novas ganhou expressão face à aquisição de casas usadas, revela o INE:

  • Casas novas: observou-se um aumento de 8,5% no número de transações entre 2022 e o ano anterior. Estas vendas das habitações novas mobilizaram 7,7 mil milhões de euros, mais 18,2% do que em 2021. Já no último trimestre de 2022 verificou-se uma redução do número de habitações novas transacionadas (-10,9%), bem como uma queda do valor movimentado (-7,1%).
  • Casas usadas: registaram uma redução de 0,1% no número de vendas durante o ano passado. Já o valor das transações das casas usadas subiu 11,6% para 24,1 mil milhões de euros. De notar ainda que entre outubro e dezembro de 2022 foram vendidas menos 17,1% casas usadas do que no mesmo período do ano anterior e, em resultado, movimentou-se menos capital (-11,5%).

“Entre 2018 e 2022, o valor das habitações transacionadas cresceu 50,6%, acima do aumento observado no número de transações, 11,0%”, destaca o INE.

Quem compra mais caras em Portugal?

Foram as famílias as responsáveis pela grande maioria da compra de casas em Portugal, protagonizando 145.515 transações habitacionais em 2022 – 86,7% do total das vendas, sendo este o “registo mais elevado desde 2019”. Estes negócios movimentaram no país 27,3 mil milhões de euros (85,8% do total), mais 13,2% do que no trimestre anterior. Os setores institucionais foram responsáveis pelas restantes 22.385 transações.

As 167.900 habitações foram vendidas a proprietários oriundos de diferentes geográficas, muito embora os residentes em Portugal continuem a representar a grande maioria:

  • Compradores com domicílio fiscal em Portugal adquiriram 157.178 habitações em 2022 (93,6% do total), desembolsando cerca de 28 mil milhões de euros;
  • Compradores com domicílio fiscal em outros países da União Europeia: foram responsáveis por transacionar 5.812 casas (+27,5% face a 2021), movimentando um total de 1,6 mil milhões de euros;
  • Compradores com domicílio fiscal nos restantes países: protagonizaram a aquisição de 4.910 unidades em 2022 (+12,5%), mediante o pagamento de quase 2 mil milhões de euros.

Embora os residentes em território nacional continuem a representar a maior fatia das transações e do valor total movimentado, as vendas protagonizadas por estrangeiros continuam a ganhar terreno. “Relativamente às transações de alojamentos por compradores com domicílio fiscal fora do território nacional, registou-se um crescimento de 20,2% face ao ano transato, contabilizando-se 10.722 alojamentos. Este resultado corresponde a um acréscimo de 1,0 p.p. no peso relativo das aquisições por compradores fora do território nacional (6,4%) em relação a 2021”, destaca o INE.

Ainda assim, na reta final de 2022 observou-se uma queda homóloga de transações de casas em todas as origens dos compradores (nacionais e estrangeiras), tendo sido mais expressiva nos estrangeiros oriundos de países além das fronteiras europeias.

Onde é que se compraram mais casas?

A venda de casas em 2022 dinamizou o mercado residencial de norte a sul no país, mas não de igual forma. Há regiões que atraem mais as famílias e investidores a adquirir habitação, tal como mostram os dados o INE:

  • Área Metropolitana de Lisboa: aqui foram transacionadas 50.218 casas, representando 29,9% do total das transações. No que diz respeito ao investimento foram alocados um total de 13,3 mil milhões de euros (cerca de 41,7% do total);
  • Norte: registaram-se 47.303 transações, correspondendo a 28,2% do total. A compra de casas na região Norte do país movimentou 7,4 mil milhões de euros (23,2%). Dentro desta região está a Área Metropolitana do Porto, onde foram vendidas 25.242 casas por 4,7 mil milhões;
  • Centro: contabilizou 35.516 transações, 21,2% do total. Estes negócios movimentaram cerca de 4,2 mil milhões de euros (13,2% do total);
  • Algarve: aqui foram vendidas 15.123 casas em 2022, representado 9% do total. Estas transações somaram cerca de 4,3 mil milhões de euros (13,5%);
  • Alentejo: nesta região foram compradas 12.652 casas (cerca de 7,5% do total), captando cerca de 1,4 mil milhões de euros (4,4%);
  • Região Autónoma da Madeira: aqui totalizaram-se 4.142 transações (2,5% do total). Foram alocados à região madeirense cerca de 841 milhões de euros em 2022 (2,6%);
  • Região Autónoma dos Açores: transacionaram-se 2.946 habitações, o que correspondeu a uma quota regional de 1,8%. Em resultado, foram investidos 419 milhões de euros em habitação (1,3% do total).