8 de Outubro, 2022 Lucas Lopes

OCDE admite Euribor em 5% em 2023: quanto sobe a prestação da casa?

Juros deverão escalar para nível máximo registado na crise do subprime, aumentando as prestações em centenas de euros. Explicamos.

A política monetária europeia tem um objetivo concreto: baixar a inflação dos atuais 10,0% para 2%, o nível em que é assegurada a estabilidade dos preços. Para chegar à meta, o Banco Central Europeu (BCE) já aumentou as taxas de juro diretoras em 125 pontos base na segunda metade deste ano, gerando uma onda de subidas nas Euribor. E tudo indica que irá manter a estratégia de subida, de tal modo que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acredita que os juros diretores possam subir até aos 4% já em 2023. Este aumento irá impulsionar ainda mais evolução ascendente das taxas Euribor elevando-as ao patamar dos 5%, atingido em 2008, na crise do subprime. E, em resultado, as prestações da casa vão subir centenas de euros, nos contratos de crédito habitação com taxas variáveis. Explicamos tudo com base em simulações.

O supervisor europeu está empenhado em baixar a inflação que se faz sentir na Zona Euro e está a esmagar os orçamentos das famílias. E, mesmo depois de o BCE ter subido as taxas diretoras de zero para 1,25% entre julho e setembro, a inflação na Zona Euro continua em alta, tendo atingido os 10,0% em setembro, segundo os dados provisórios do Eurostat publicados no passado dia 30 de setembro.

É por isso que Christine Lagarde, presidente do BCE, já deixou claro que vai continuar a subir as taxas de juro, pelo menos mais três ou quatro vezes. “O nosso objetivo prioritário é a estabilidade dos preços e temos de o conseguir fazer”, explicou a responsável, assegurando que a ideia do supervisor europeu “não é reduzir o crescimento, não é colocar as pessoas no desemprego, não é criar uma recessão” económica da Zona Euro.

Isto porque no mercado há já vozes a alertar para os riscos desta política monetária seguida por vários bancos centrais no mundo. Por exemplo, o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, defende que a subida de juros “não vai fazer muito para resolver o problema”, que resulta da guerra e vai, antes, provocar “recessão ainda mais profunda”.

Entre os próprios bancos centrais da Zona Euro não há concensso sobre a novo aumento, estando em cima da mesa subidas de 50 ou 75 pontos base. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, está entre os que pedem prudência ao BCE nas próximas medidas. A próxima reunião do Conselho de Governadores está agendada para 27 de outubro e será nesse dia que o BCE irá decidir, tendo por base os indicadores económicos, qual vai ser a dimensão da nova subida das taxas de juros diretoras – que depois se refletem nas Euribor e, consequentemente, marcar o nível de encarecimento das prestações a pagar ao banco pelos créditos habitação.

  • Se a subida das dos juros diretores for de 75 pontos base, as taxas vão chegar aos 2% já no final de outubro.
  • Se optar por uma subida menos agressiva (de 50 pontos base), as taxas de juro diretoras vão fixar-se em 1,75% no final do mês.
Subida do juros na Europa

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Juros diretores estão em 1,25% e deverão subir para 4% em 2023, diz OCDE

Como o regulador europeu já assumiu que vai continuar a subir as taxas de juro diretoras para travar a inflação, a OCDE acredita que os próximos aumentos vão ser de tal ordem, que vão elevar os juros diretores para 4% já em 2023. “Na área do euro, o BCE enfrenta um ambiente desafiante, dadas as perspetivas face às pressões inflacionistas cada vez mais generalizadas”, sublinha a OCDE, adiantando que “a taxa principal de refinanciamento deverá subir para 4% em 2023”, segundo noticiou a CNN Portugal.

Se se verificar um aumento dos juros desta dimensão, será a terceira vez desde 1999 que o BCE coloca as taxas de juro nos 4%, recorda o mesmo meio:

  • A primeira vez que o regulador europeu colocou as taxas diretoras em 4% foi em 2000. E as taxas Euribor, como mantêm uma íntima relação com os juros do BCE, acompanharam esta subida, tendo chegado aos 5% em agosto de 2000;
  • A segunda vez na história do BCE subiu as taxas para o patamar de 4% foi entre 2006 e 2008, durante a crise financeira que assolou a Europa. Reagindo a esta subir, as taxas Euribor começaram a escalar em agosto de 2005, alcançando os 2%. E continuaram a subir, atingido o patamar dos 5% em meados de 2008.

“Está claro que o BCE assumiu a política de subida das taxas de juro diretoras na tentativa de controlo da inflação. Desta forma, atendendo que há vários fatores a pressionar a inflação, é expectável que a taxa continue a subir nos próximos meses e, consequentemente, as taxas Euribor dos diferentes prazos”, explica Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/crédito habitação em Portugal.

Subida da Euribor

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Euribor poderá voltar a fixar-se acima de 5%? Subida as prestações será em flecha

Em reação às últimas subidas dos juros diretores pelo BCE, as taxas Euribor têm vindo a subir mês após mês para todos os prazos. E em setembro, as taxas médias fixaram-se nos seguintes valores:

  • Euribor a 12 meses (a mais utilizada no conjunto dos novos contratos de crédito habitação): atingiu os 2,233% em setembro, quase o dobro da alcançada em agosto (1,249%);
  • Euribor a 6 meses (mais utilizada em Portugal no total de créditos habitação): chegou aos 1,596% em setembro, também quase o dobro da registada no mês anterior (0,837%);
  • Euribor a 3 meses (a menos utilizada nos novos contratos, mas que ainda representa 30% da totalidade de contratos assinados até dezembro de 2021): fixou-se em 1,011% em setembro, quase o triplo da registada em agosto (0,395%).

Se as previsões da OCDE se concretizarem – ou seja, se as taxas diretoras chegarem aos 4% em 2023 -, os dados históricos mostra-nos que a Euribor vai subir ainda mais, podendo mesmo alcançar o patamar dos 4% e dos 5% como se verificou no passado. E caso se venha a verificar, as prestações da casa vão ficar muito mais caras.

Segundo as contas do idealista/créditohabitação, no caso de um empréstimo habitação de 150 mil euros, a 30 anos, com spread de 1%, a prestação da casa irá subir centenas de euros no caso da Euribor atingir o patamar dos 4% ou dos 5%:

  • Euribor a 12 meses a 4 e a 5%: : quanto sobe a prestação da casa?

Quem contratar um crédito habitação em outubro com a Euribor a 12 meses pagará de prestação mensal 651 euros mensais. Note-se que a prestação da casa é calculada usando a média mensal da Euribor do mês anterior, neste caso de 2,233% ( a média de setembro). Se uma família contratar um empréstimo com a taxa Euribor a 4%, nas mesmas condições, pagará mais 154 euros mensais, que se traduz num aumento anual de 1.848 euros.

No caso de o crédito habitação ser contratado com a Euribor nos 5%, a prestação da casa fica nos 899 euros/mês. Este valor representa uma diferença de +248 euros por mês face quem contratou um empréstimo para comprar casa em outubro desde ano. Num ano, a família pagará mais 2.976 euros.

  • Euribor a 6 meses nos 4% e 5% em 2023

Se a taxa chegasse aos 4%, a prestação da casa passaria dos atuais 600 euros por mês para 805 euros (+205 euros/mês). Isto quer dizer que se uma família contratar um crédito habitação com a Euribor a 4% pagará mais 1.230 euros durante seis meses do que quem contratou com a taxa atual, que atingiu os 1,596% em setembro.

No caso da Euribor a 6 meses chegar aos 5%, uma família que contrate um crédito habitação em 2023 vai pagar uma prestação 299 euros mais cara, já que alcança os 899 euros. Em resultado, o aumento da taxa traduz-se num custo acrescido de 1.794 euros durante os seis meses seguintes.

Quanto sobem as prestações da casa

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Como sobem as prestações da casa dos contratos existentes?

Estas simulações são válidas comparando novos créditos habitação contratados com as taxas Euribor atuais (mês de setembro) e os contratados com a Euribor nos 4% e 5%. Já para os empréstimos habitação existentes, o aumento da prestação da casa vai depender de vários fatores, como:

  • valor do empréstimo;
  • spread contratado;
  • ano em que o contrato foi assinado;
  • capital em dívida.

Ou seja, os créditos habitação estando indexados à Euribor – a grande maioria em Portugal – vão sentir aumentos nas prestações da casa assim que forem atualizadas, a 3, 6 ou 12 meses. Mas a dimensão do aumento será variável de acordo com as características do empréstimo e a fase de pagamento.

“Atendendo à recomendação de cautela no assumir de novas responsabilidade, aconselha-se a que as famílias que procuram maior estabilidade ou que tenha um orçamento familiar mais reduzido optem por um cenário de taxa de juro fixa, mesmo que no curto prazo a prestação da casa seja superior, de modo a prevenirem uma escalada continuada das taxas de juro”, aconselha Miguel Cabrita.

Fonte: Idealista