26 de Setembro, 2022 Lucas Lopes

Venda de casas em Portugal cai 7,6% em junho – porquê?

Inflação, altas taxas de juros e subida dos preços das casas podem ajudar a explicar este arrefecimento da venda de casas no país.

negócio das casas segue de vento em popa. No nosso país foram vendidas 43.607 casas só no segundo trimestre de 2022, mais 4,5% do que no mesmo período do ano passado. E esta dinâmica resultou no maior aumento de sempre dos preços das casas (+13,2%). Mas olhando para os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) à lupa, salta à vista que houve um arrefecimento da venda das casas em junho. A alta inflação e subida dos juros nos créditos habitação poderá ajudar a explicar esta descida dos negócios.

Os dados avançados pelo gabinete de estatística português na quinta-feira, dia 22 de setembro, revelam que continua a haver apetite para comprar casa no país – só as famílias foram responsáveis por 87,6% do total de transações. As vendas de casas correram bem em abril e em maio deste ano, apresentando aumentos homólogos no número de transações de 11,3% e 12,7%, respetivamente.

Até aqui tudo bem. Acontece que o INE deu conta que “em junho, pela primeira vez desde fevereiro de 2021, registou-se um decréscimo do número de transações (7,6%)”, lê-se na publicação. Há vários motivos que podem ajudar a explicar esta desaceleração da venda de casas em junho, que estão relacionados com o atual contexto económico marcado pela guerra:

  • Inflação em alta

A subida generalizada dos preços está a sentir-se desde o início do ano, tendo-se intensificado depois de eclodir a guerra da Ucrânia. Desde março, o movimento ascendente da inflação tem vindo a acelerar, pressionando cada vez mais os bolsos das famílias, que, por sua vez, começam a fazer contas à vida e a refletir sobre os investimentos a médio e longo prazo. Em agosto, a inflação fixou-se nos 8,9%, estando nos níveis mais altos dos últimos 30 anos, refletindo-se num menor poder de compra.

  • Preços das casas em máximos históricos

Com os preços das casas a subir trimestre após trimestre, torna-se mais difícil para as famílias comprar casa à medida das suas necessidades e, sobretudo, do seu orçamento. Note-se que no segundo trimestre, as casas ficaram 13,2% mais caras, sendo este o maior aumento alguma vez registado pelo INE.

  • Juros do crédito habitação a subir a pique

São muitas as famílias – especialmente as portuguesas – que recorrem a crédito habitação para comprar casa. E agora deparam-se com a subida dos juros à boleia da Euribor (tanto taxas variáveis como fixas). Deparando-se com prestações da casa mais elevadas que há um ano (quando a Euribor ainda estava em terreno negativo), as famílias passam a ponderar muito bem se este é o momento para comprar casa com recurso a financiamento bancário.

Com a subida da Euribor para todos os prazos, a taxa de juro implícita nos créditos habitação está a ficar mais elevada há cinco meses consecutivos, tendo atingido os 1,011% em agosto, segundo os dados mais recentes do INE.

  • Incerteza num contexto de guerra

conflito na Ucrânia está para durar depois de Vladimir Putin ter assumido que iria usar “todos os sistemas de armamento disponíveis” para proteger a “integridade territorial”, assim como a “independência e a liberdade” da Rússia. Não se sabe até onde a guerra poderá escalar ao ponto de serem usadas armas nucleares. E este contexto de insegurança e incerteza na Europa poderá fazer muitas famílias preferir poupar para uma emergência a investir num bem imóvel.

De acordo com os dados do Banco de Portugal, o valor dos depósitos dos particulares têm estado a subir mês após mês, tendo atingido os 182,7 mil milhões de euros em julho. E esta pode ser a forma mais segura de guardar o dinheiro em tempos de guerra, até porque com a subida das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu, os economistas sugerem que os depósitos a prazo passarão a dar um maior rendimento. De notar ainda que há outras formas de proteger as poupanças neste contexto de alta inflação, tal como explicamos aqui.