Esta é uma medida para travar a inflação na Zona Euro. BCE admitiu que vai continuar a subir os juros nas próximas reuniões.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira, dia 21 de julho, que decidiu proceder a um aumento de 50 pontos base das suas três taxas de juro diretoras, o primeiro aumento em 11 anos.
As alterações nas três taxas de juro diretoras são as seguinte:
- a taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 0% para 0,50%;
- a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica agora em 0,75%
- a taxa de depósito que estava em terreno negativo (-0,50%) sobe para 0%. Esta subida terá efeitos a partir de 27 de julho.
“O Conselho do BCE considerou apropriado dar um primeiro passo maior, na sua trajetória de normalização das taxas de juro diretoras, do que o sinalizado na reunião anterior”, refere em comunicado o banco central, que optou por uma subida de 50 pontos base em vez dos 25 pontos base indicados inicialmente.
Foi em junho que o BCE indicou que tencionava subir as taxas de juro em 25 pontos base na sua próxima reunião. Mas, desde então, alguns membros do Conselho da instituição mostraram-se a favor de uma subida mais agressiva, da ordem dos 50 pontos base, que acabou por acontecer esta quinta-feira.
E o BCE admitiu ainda que nas próximas reuniões continuará a subir as taxas de juro. Até porque esta é uma medida para travar a inflação que se faz sentir na Zona Euro, que atingiu nível recorde em junho de 8,6%, segundo os dados do Eurostat.
Nas próximas reuniões do Conselho do BCE, será apropriada uma nova normalização das taxas de juro”, indica o comunicado divulgado no final da reunião, acrescentando que a antecipação, esta quinta-feora decidida, de “saída de taxas de juro negativas permite ao Conselho do BCE efetuar a transição para uma abordagem reunião a reunião nas decisões sobre as taxas de juro”.
Segundo o BCE, a futura trajetória das taxas de juro diretoras “continuará a depender dos dados e ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo”.
Instrumento de Proteção da Transmissão já aprovado – para que serve?
Na reunião, o BCE aprovou também a criação do Instrumento de Proteção da Transmissão (IPT), que considerou “necessária para apoiar a transmissão eficaz da política monetária“. Trata-se de um novo instrumento para proteger os países mais frágeis de ataques especulativos às suas dívidas soberanas.
“O IPT será uma adição ao conjunto de instrumentos do Conselho do BCE e pode ser ativado a fim de contrariar dinâmicas de mercado desordenadas, injustificadas e passíveis de representar uma ameaça grave para a transmissão da política monetária na área do euro. As aquisições não estão sujeitas a restrições prévias. Ao salvaguardar o mecanismo de transmissão, o IPT permitirá ao Conselho do BCE cumprir mais eficazmente o seu mandato de manutenção da estabilidade de preços”, explicam em comunicado.
Com as finanças públicas nacionais sob forte pressão desde a pandemia da Covid-19 e agora com o impacto da guerra na Ucrânia, os juros das dívidas começaram a divergir entre os países da zona euro, com os países mais endividados a serem penalizados.
Este mecanismo anti-fragmentação foi desenhado para evitar nova crise de dívidas soberanas como a de 2012. Este instrumentoprevê compras de dívida potencialmente ilimitadas para combater os ataques especulativos.
O IPT foi desenhado “para todos os países da zona euro” e que será o Conselho do BCE a decidir se se aplica a um país. Trata-se de uma ferramenta para usar “num momento excecional”, embora tenha também salientado que o BCE “não hesitará” em recorrer a ele.
Subida dos juros em 50 pontos base já era esperada
“O Banco Central Europeu está muito atrasado na normalização da sua política monetária e não pode esperar mais para aumentar as taxas de juro. Christine Lagarde a sua presidente, deve, portanto adotar um tom agressivo e agir finalmente com uma subida inicial de 50 pontos base, contrariando os 25 pontos base antecipados pelos mercados”, referiu Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, numa nota enviada à Lusa.
“A queda do euro face ao dólar – que aumenta o preço das matérias-primas – é mais um argumento para o BCE demonstrar a sua determinação”, acrescenta.
Nos últimos dois anos, o banco central optou por uma política monetária acomodatícia, com taxas de juro muito baixas e elevadas compras de ativos, para ajudar a economia a ultrapassar a crise causada pela pandemia da Covid-19.
Desde há alguns meses, o BCE começou a preparar o terreno para pôr fim à era do dinheiro barato, tendo começado por reduzir as compras líquidas de dívida, que terminaram este mês. A instituição liderada por Christine Lagarde junta-se assim a outros bancos centrais, como a Reserva Federal norte-americana, que têm estado mais ativos na luta para conter a subida de preços.
*Com Lusa
Fonte: Idealista