19 de Julho, 2022 Lucas Lopes

Crédito habitação teve em 2021 o maior crescimento em quatro anos

Em 2021, o montante de crédito habitação concedido cresceu 37% em relação a 2020 e o número de contratos celebrados aumentou 29%.

Primeiro a pandemia e depois guerra. A estas “adversidades” junta-se a inflação e as taxas de juro, que estão a subir, bem como os preços das casas. A crescer está também o crédito habitação, com os bancos a continuarem a mostrar disponibilidade para financiar a compra de casa. Isso mesmo mostram os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP). “Em 2021, o crescimento dos contratos de crédito habitação celebrados e dos montantes concedidos foram os mais acentuados desde 2017”, lê-se no Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Crédito de 2021, divulgado esta quinta-feira (14 de julho de 2022).

Segundo o regulador e supervisor, em 2021, o montante de crédito habitação concedido cresceu 37%, em relação a 2020, e o número de contratos celebrados aumentou 29%. “Em média, foram celebrados 9.720 contratos de crédito habitação por mês, no montante de 1230,4 milhões de euros. O montante médio por contrato de crédito habitação foi de 126.580 euros, um valor superior ao registado em 2020 (119.408 euros)”, revela o BdP.

“Em 2020, o mercado de crédito habitação não tinha sido particularmente afetado pela pandemia de Covid-19, tendo o montante de crédito concedido aumentado ligeiramente, face ao ano anterior. Todavia, os crescimentos verificados em 2021 são os mais acentuados desde 2017”, conclui a entidade liderada por Mário Centeno.

O banco central refere ainda que o montante de crédito habitação concedido em 2021 ultrapassou os valores de 2020 em todos os trimestres do ano: “Destacam-se os crescimentos de 62,2% e de 43,1% verificados, respetivamente, no segundo e terceiro trimestres de 2021, resultado dos efeitos da pandemia de Covid-19 nos períodos homólogos de 2020”.

De referir que os intermediários de crédito foram responsáveis pela comercialização de 16,1% do montante total de crédito habitação concedido em 2021, um montante superior ao verificado no ano anterior (12,9%).

Saldo em dívida aumentou

O BdP adianta ainda que o número de contratos na carteira das instituições manteve-se relativamente estável no ano passado, tendo o saldo em dívida, no entanto, crescido.

“No final de 2021, as instituições tinham em carteira 1,43 milhões de contratos de crédito habitação (menos 0,9% que em 2020), aos quais correspondia um saldo em dívida de 101,3 mil milhões de euros (mais 12,4%)”,

No que diz respeito ao prazo médio, diminuiu nos novos contratos, mas aumentou nos contratos em carteira. “Os novos contratos de crédito habitação tiveram, em média, um prazo de 32,9 anos, o que compara com 33,1 anos em 2020. Os contratos em carteira no final do ano tinham um prazo médio de 33,5 anos, acima do prazo do final de 2020 (33,3 anos), o que pode estar relacionado com o regime de moratória pública, que foi acompanhado por um aumento da maturidade dos contratos”, explica o banco central.

Taxa variável ganha “peso”

Relativamente ao tipo de taxa mais usada na concessão de novos financiamentos, a taxa variável “reforçou a sua importância, representando cerca de 85% dos novos contratos”, aponta o BdP.

“Em 2021, 84,9% dos contratos de crédito habitação foram celebrados a taxa variável, uma proporção acima da de 2020 (82,5%). Em contrapartida, diminuiu a importância da taxa mista (de 11,9% dos novos contratos, em 2020, para 10%, em 2021) e da taxa fixa (de 5,6% em 2020 para 5,1% em 2021)”, lê-se no boletim.

Spread mantém-se estável

 spread (margem de lucro dos bancos) médio dos novos contratos com taxa variável manteve-se relativamente estável, após as diminuições verificadas desde 2015, conclui o regulador, salientando que “os novos contratos de crédito habitação com taxa variável indexados à Euribor a 3, 6 ou a 12 meses tiveram um spread médio de 1,14 pontos percentuais, relativamente próximo do spread médio dos contratos celebrados em 2020 (1,19), o que se verifica após as diminuições dos últimos anos”.

“A maioria dos contratos celebrados a taxa variável (60,1%) continuou a ter spreads entre 1 e 1,5 pontos percentuais, embora este intervalo de spreads tenham perdido importância, face a 2020 (65%). Em contrapartida, os spreads entre 0,5 e 1 pontos percentuais passaram a representar quase um terço dos contratos celebrados a taxa variável, um aumento face à proporção do ano anterior (24,4%). Os contratos a taxa variável estavam maioritariamente indexados à Euribor a 12 meses (66,3%), mas este indexante perdeu importância, face a 2020 (73,5%). A Euribor a 6 meses representou 32,5% dos novos contratos, acima da proporção de 2020 (25,3%) e a Euribor a 3 meses continuou a ter uma importância residual, representando apenas 0,2% dos contratos celebrados em 2021 a taxa variável”, conclui.

Renegociações e montante renegociado crescem

O banco central adianta que o número de renegociações em 2021 foi muito superior ao verificado em 2020. Trata-se de um aumento de 36% que decorreu num contexto de “cessação do regime da moratória pública, que ocorreu em setembro de 2021 para a generalidade dos contratos”. “Os mutuários não se encontravam em situação de incumprimento na maior parte dos contratos renegociados (88,8%)”, frisa o regulador.

Reembolsos antecipados e montante reembolsado aumentam

Relativamente ao número de reembolsos antecipados e ao montante reembolsado, aumentaram cerca de 30%, indica o BdP. “Em 2021 foram realizados 132.375 reembolsos antecipados em contratos de crédito habitação (mais 28,4%, face a 2020), aos quais correspondeu um montante reembolsado de cerca de 5,8 mil milhões de euros (mais 29,7%). O montante médio por reembolso aumentou ligeiramente, de 43.098 euros, em 2020, para 43.537 euros, em 2021”, conclui.

Fonte: Idealista