28 de Junho, 2022 Lucas Lopes

2022: uma prova de fogo para os agentes imobiliários

Muitos agentes e empresas de mediação imobiliária registaram um ano incrível em 2021,  diversos alcançaram valores recorde e o primeiro trimestre deste ano seguiu a mesma linha. Mas é bom entender que este mercado é, e será cada vez mais, exigente, e gera uma prova de fogo constante para a credibilidade do nosso sector e profissão.

É expectável que 2022 venha a ser um ano bastante similar a 2021, no mercado imobiliário residencial, no que diz respeito à procura e oferta.

Há quatro fatores que destaco. Em primeiro lugar, as alterações das preferências dos consumidores despertadas pela pandemia, bem como novas necessidades de habitação, que levam 45% das famílias portuguesas a assumirem a ambição de mudar de casa.

Outro aspeto prende-se com a acumulação de poupança dos portugueses, em consequência das restrições da pandemia, que está a impulsionar a capacidade de muitas famílias iniciarem o processo de aquisição de habitação própria ou de mudança de casa.

Terceiro, a expectativa de continuidade da aposta das instituições financeiras na concessão de crédito habitação para a compra de casa.

Por fim, continuará a registar-se escassez de oferta em alguns mercados e segmentos imobiliários, nomeadamente, nos segmentos médio e médio baixo.

Contudo, a perspetiva de subida de taxas de juro e a imposição do Banco de Portugal de uma convergência para prazos de 30 anos nos novos contratos de crédito habitação, máximo de 35 anos para jovens de 35 anos ou mais, já em vigor desde abril, irá diminuir ainda mais o poder de compra de casa dos portugueses. Facto que irá criar ainda maior pressão na procura, nos segmentos médios e médio baixo do mercado, forçando jovens e famílias a procurar casas em concelhos e freguesias da AML e AMP que ainda oferecem soluções de habitação a valores mais reduzidos, comparativamente com outras zonas das respetivas áreas metropolitanas. Em última análise, esta tendência irá contribuir para limitar e diminuir a procura.

Do lado da oferta, os principais desafios que o sector imobiliário enfrenta são a escassez de mão de obra, a falta, e o aumento do preço, das matérias primas, para a construção. Os ciclos de licenciamento e construção ainda muito longos, entre outros aspetos, não permitem a produção e entrega de novas habitações ajustadas às necessidades dos portugueses, ao ritmo necessário e desejado. Estes fatores influenciam quer as atividades de reabilitação de imóveis, quer as de construção nova, e limitam a rotação de habitações, o que não contribui para o aumento da oferta de imóveis usados e para uma utilização mais eficiente do parque habitacional português.

Os agentes não podem controlar estes fatores, mas controlam as suas atividades diárias para proporcionar um serviço de excelência a proprietários e compradores, bem como identificar pessoas que, efetivamente, podem comprar e vender casa nas condições atuais de mercado. Necessitamos de ter uma nova abordagem ao mercado, criando oportunidades, qualificando eficazmente a motivação e capacidade económica dos intervenientes, encontrando soluções para aumentar a oferta de imóveis em venda ajustadas às necessidades da procura. Não podemos esperar que os construtores e promotores resolvam esta situação, têm que ser os profissionais de mediação imobiliária a propor as oportunidade e soluções, localmente. Os mediadores são os especialistas locais.

Esta é uma prova de fogo para a mediação imobiliária, os mercados funcionam por ciclos – expansão, correção, depressão e recuperação – o que significa que uma correção e depressão vai chegar. Temos que demonstrar aos consumidores, às pessoas, o valor acrescentado que a mediação imobiliária aporta, movendo-nos de uma lógica transacional para uma lógica de relação, passar de uma lógica de produto para uma lógica de serviço, assessorando os clientes em cada fase do   percurso de compra e venda de uma casa. Em 2022, o  que está em jogo, mais que o número de transações e a evolução dos preços , é a reputação e relevância da mediação imobiliária. E a superação deste desafio não depende de terceiros. Está inteiramente nas nossas mãos.

Ricardo Sousa

CEO da Century 21 Portugal

Fonte: Diário Imobiliário