8 de Abril, 2022 Lucas Lopes

Inflação em alta acaba com empréstimos da casa super baratos

Taxas Euribor dão o salto em março e os seus efeitos já se refletem nas prestações da casa. Explicamos tudo com exemplos.

A subida generalizada dos preços faz-se sentir na carteira dos portugueses, espelhando-se na conta do supermercado, na fatura dos combustíveis e da energia. E poderá também refletir-se na prestação da casa a pagar ao banco? Sim. Tudo indica que a era dos empréstimos da casa mais baratos de sempre está prestes a terminar. As políticas económico-financeiras do Banco Central Europeu (BCE) estão a apertar e a fazer subir as taxas Euribor, que podem mesmo chegar a terrenos positivos já em 2022. A verdade é que, contas feitas, já há diferenças na prestação dos créditos habitação contratados em abril face à prestação dos empréstimos assinados em março e tudo aponta para que as subidas na prestação da casa venham a ser maiores. Explicamos tudo com recurso a exemplos.

inflação está em alta um pouco por todo o mundo, um cenário que se agravou ainda mais com a guerra na Ucrânia. No conjunto dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a inflação homóloga atingiu os 7,7% em fevereiro. E observa-se também que na Zona Euro a inflação subiu 5,9% e na União Europeia atingiu os 6,2% nesse período, segundo apontam os dados do Eurostat. Em Portugal, o cenário não é muito diferente: a inflação homóloga fixou-se nos 4,4% em fevereiro e subiu mesmo para os 5,3% em março de 2022, atingindo o valor mais elevado desde junho de 1994, segundo apontou recentemente o Instituto Nacional de Estatística.

Para travar este cenário, o Banco Central Europeu (BCE) já anunciou que vai avançar com uma abordagem mais agressiva no aperto das condições financeiras nos próximos meses. E a subida da taxa de juros diretora em 2022 não está fora dos planos do regulador europeu.

A verdade é que este cenário já tem mexido – e muito – com as taxas Euribor, que aceleraram a tendência de subida em março, que já havia sido sentida no início do ano. Este pode ser mesmo o início do fim da era dos empréstimos da casa mais baratos de sempre. Isto porque os créditos com taxa variável – que, recorde-se, viram refletidas nas prestações mensais as taxas Euribor negativas desde o final de 2015/início de 2016 até à atualidade – já estão a começar a refletir a subida destas taxas.

Como é que a subida da Euribor está a afetar a prestação mensal?

As taxas de Euribor estão já a dar sinais de subida desde o início do ano, registando uma evolução mais acentuada desde março, dias depois do início da guerra na Ucrânia. E as diferenças são maiores para as taxas Euribor a 12 meses do que para a Euribor a 6 meses.

Para a Euribor a 12 meses – à qual estão indexados a maioria dos novos créditos habitação em Portugal – a média de março é de -0,237%, bem superior à média de fevereiro foi de -0,335%. Já para a Euribor a 6 meses – que é a taxa dominante no total de contratos – a média de março é de -0,418%, enquanto a de fevereiro situou-se nos -0,476%.

Isto quer dizer que quem contratar um crédito habitação em abril terá taxas Euribor mais elevadas (média de março) do que quem contratou um empréstimo da casa em março (utilizando a média de fevereiro). E isto vai refletir-se nas prestações da casa a pagar.

Para melhor explicar como tudo isto vai afetar a tua carteira, os especialistas do idealista/créditohabitação prepararam uma simulação de prestação para um empréstimo da casa de 150.000 euros a 30 anos com spread de 1%. E aqui podemos comparar duas situações: como varia a média das taxas Euribor e, consequentemente, a prestação da casa para um crédito habitação com taxa variável contratualizado em março deste ano e em abril. Os resultados estão à vista:

Resumindo, no primeiro caso, em que se optou pela Euribor a 12 meses, a prestação da casa sobe cerca de 6 euros por mês no primeiro ano. E no caso do crédito Euribor a 6 meses, a diferença é menor: quem contratar um empréstimo da casa em abril vai pagar cerca de mais 4 euros no primeiro semestre do que quem assinou o crédito habitação em março desde ano.

Quanto é que vão subir as taxas Euribor daqui em diante?

Segundo os mesmos especialistas, “é previsto um aumento da Euribor ao longo do ano, com impacto gradual nos créditos habitação a decorrer”. A subida das taxas Euribor e dos juros é, de resto, uma previsão dada por várias entidades nas últimas semanas.

Tanto a CaixaBank como o Bankinter já avançaram que a Euribor a 12 meses deverá alcançar terrenos positivos já este ano. Este é uma visão partilhada também pela espanhola Fundación de las Cajas de Ahorros (Funcas): “Em matéria de política monetária, espera-se que o BCE comece a subir os juros este ano, e que realize várias subidas ao longo de 2023, de modo a que a Euribor a 12 meses se situe em terreno positivo ao longo da segunda metade do ano”.  Em concreto, esta entidade estima que a Euribor a 12 meses atinja os 0,02% já em novembro de 2022.

Também o presidente do IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, estima que a Euribor a 12 meses fique positiva já no final de maio e a Euribor a 6 meses em agosto. A Euribor a 3 meses – a menos usada das três nos créditos habitação em Portugal- deverá atingir terreno positivo em setembro ou outubro, cita o ECO.

Que medidas estão em curso para evitar choques nos créditos habitação?

Para preservar a estabilidade financeira, o Banco Central Europeu (BCE) define um conjunto de políticas macroprudenciais para prevenir riscos sistémicos, ou seja, riscos que se podem propagar pelo sistema financeiro e pela economia em geral. E em território nacional é o Banco de Portugal (BdP) que está encarregue de implementar e monitorizar o cumprimento das medidas macroprudenciais no que diz respeito à concessão de novos créditos habitação e outro tipo de créditos.

Há várias medidas macroprudencias implementadas em Portugal, sendo que a mais recente – entrou em vigor no passado dia 1 de abril – diz respeito aos prazos de maturidade de crédito habitação consoante a idade dos titulares. O objetivo é só um: “A convergência da maturidade média dos novos contratos de crédito à habitação para 30 anos até ao final de 2022”, explicam desde o BdP.

Segundo os especialistas do idealista/créditohabitação, “as medidas assumidas pelo mercado no intuito de maior controlo de risco nos créditos habitação concedidos, nomeadamente ao nível da taxa de esforço das famílias, terão especial importância na medida em que já acautelavam possíveis choques no índice de referência”.

 

Fonte: Idealista