22 de Julho, 2020 Lucas Lopes

“Preços de venda das casas são pouco elásticos e atualmente verificamos que estão muito estáveis”

pandemia da Covid-19 surgiu em Portugal – e no mundo – sem pedir licença, estando a deixar a sua marca em vários setores de atividade. E o imobiliário não foge à regra. Os dados divulgados pela Century 21 (C21) Portugal, relativos ao primeiro semestre do ano, são, no entanto, “mais positivos” do que o estimado. Ricardo Sousa, CEO da empresa, diz ao idealista/news que “ainda é cedo para ter indicadores claros sobre o impacto da pandemia no setor”, explicando ainda que “nos imóveis residenciais os preços de venda são pouco elásticos e atualmente estão muito estáveis”.

Na rede C21 Portugal, em março de 2020 – mês em que foi decretado o estado de emergência nacional – registou-se uma suspensão genérica da procura. “Contudo, em abril a procura de imóveis online já estava novamente muito ativa, e em maio e junho já foram concretizadas essas transações que tinham sido adiadas no início do confinamento. Atualmente, a mediação imobiliária em Portugal está mais profissional e melhor preparada, o que permite, em momentos de maior incerteza, conquistar quota de mercado ao mercado informal de compra e venda direta, sem recurso a mediadores”, analisa o responsável.

Ricardo Sousa frisa que “houve muitas transações suspensas de março e abril que se concentraram e se estão agora a concretizar”, sendo, por isso, necessário “aguardar e monitorizar os próximos meses para” retirar “conclusões mais objetivas e rigorosas”.

Sobre a evolução dos preços das casas em Portugal, que dispararam nos últimos anos – subiram 10,3% no primeiro trimestre de 2020, em termos médios, a nível nacional, face ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) –, o CEO da C21 Portugal considera que, pelo facto da procura ter uma expetativa de revisão em baixa dos preços, que não está a ser acompanhada pela oferta, o aumento do tempo médio das transações pode aumentar.

“Nos imóveis residenciais os preços de venda são pouco elásticos e atualmente verificamos que os preços estão muito estáveis. Os proprietários com boa solidez financeira têm capacidade de esperar para vender os seus imóveis ao melhor valor de mercado. Contudo, os compradores – pela sua limitação de poder de compra – e alguns investidores que querem aproveitar este momento para fazer negócios – com a aquisição de imóveis por valores mais atrativos – estão no mercado a efetuar ofertas abaixo do ‘asking price’, na expetativa que os preços baixem”, conta.

Quando questionado sobre a eventual necessidade de alguns proprietários em vender urgentemente a casa devido às dificuldades financeiras geradas pela atual crise –  aplicando, para isso, “descontos mais agressivos” – o gestor admite que o fenómeno poderá ocorrer em todo o país e em todo o tipo de imóveis, sendo “uma consequência da situação pessoal do proprietário”. “Contudo será mais evidente nos segmentos médio e médio baixo, bem como nos mercados de segunda residência”, prevê.

“Este fenómeno [aumento da oferta para a classe média portuguesa] é algo que já estávamos a verificar desde o último trimestre de 2019 e que no atual contexto económico está a acelerar”

Uma das consequências da pandemia no setor residencial poderá ser o aumento da oferta para a classe média portuguesa, em particular na Área Metropolitana de Lisboa. Um cenário, de resto, que já estava em cima da mesa no pré-pandemia. Para Ricardo Sousa, a pandemia vai, “claramente”, contribuir para que mais portugueses de classe média possam ter acesso a uma habitação. “Este fenómeno é algo que já estávamos a verificar desde o último trimestre de 2019 e que no atual contexto económico está a acelerar”, afirma.

E como é que será que o setor da mediação imobiliária se vai comportar até final do ano? Será que vai reagir bem à crise pandémica? “A mediação imobiliária tem todas as condições, e a obrigação, de se adaptar rapidamente ao mercado atual e intermediar a maioria das transações realizadas em Portugal. Quanto ao mercado, devemos estar prudentemente otimistas mas é imperativo monitorizar, constantemente, as alterações da dinâmica da oferta e a evolução da situação económica do país”, conclui.

 

Fonte: Idealista