Orientada para a mediação imobiliária, a homespotters nasce em plena pandemia, impulsionada pela estagnação generalizada da atividade de AL no mercado nacional.
A atividade de Alojamento Local (AL) é uma das que mais está a sentir os efeitos negativos provocados pela suspensão global dos fluxos turísticos, paralisados pela pandemia da Covid-19. Em Portugal, há cada vez mais empresas a direcionar a mira a novos segmentos de negócio para “fugir” à crise, com a aposta em projetos que, até agora, estavam na “gaveta”. A homespotters, dogrupo Home With a View, é um exemplo disso mesmo. Nasce em plena crise sanitária, orientada para a mediação imobiliária, numa altura em que se abre uma janela de oportunidade no arrendamento de longa duração – quer para inquilinos, quer para proprietários. Em entrevista ao idealista/news, Rita Silva, uma das fundadoras do projeto, diz não ter dúvidas de que o mercado português continua bastante atrativo e está confiante que irá estabilizar e voltar a crescer na última metade do ano.
A responsável explica que a estagnação do turismo “veio mudar a realidade de muitas famílias”, pessoas que dependiam do AL e que, neste momento, “procuram uma alternativa para manter o seu investimento através de arrendamentos de longa duração ou, em último caso, proceder à venda do seu alojamento”, uma realidade que veio, de resto, dar força ao lançamento homespotters. “O abrandamento do turismo impulsionou a concretização deste projeto que estava na gaveta desde o ano passado e que surge para ir ao encontro das necessidades dos nossos clientes, que pretendem continuar a investir em Portugal e dos que pretendem arrendar/ vender os seus alojamentos”, indica.
“A vantagem centra-se nos imóveis que já temos em carteira, de uma rede de contactos e no conhecimento do mercado que o AL nos proporcionou”, adianta ainda a responsável. Isto porque a homespotters, que vai atuar no universo da mediação, faz parte do grupo Home With a View – marca direcionada para a gestão de imóveis de AL – que, por causa da atual crise, e com quebras no negócio a rondar os 90%, se viu obrigada a implementar, também, um plano de reestruturação.
Por que é que decidiram avançar agora? E para que segmento de mercado estará orientada a homespotters? Com que modelo de negócio vão funcionar? A jovem empreendedora respondeu a estas e outras questões numa entrevista escrita que agora reproduzimos na íntegra.
A mediação imobiliária esteve sempre nos vossos planos? Porque decidiram avançar agora?
A homespotters foi idealizada em 2019, inserida na política de expansão e diversificação do grupo Home With a View. Foi decisão da administração evitar ao máximo que toda a sua estrutura dependesse de uma única área de negócio, pelo que a aposta em área distintas mas correlacionadas sempre esteve presente aproveitando o know-how existente para uma simbiose perfeita no serviço que pretendemos prestar aos nossos clientes, confiança dos nossos fornecedores e parceiros. Contudo, devido à fase crescente do negócio na área do alojamento local, procurámos solidificar a nossa presença e crescer na qualidade do serviço prestado, pelo que este projeto manteve-se em segundo plano. Com a estagnação do turismo, fruto da pandemia que vivemos, a homespotters passou de imediato a projeto prioritário.
Com a estagnação do turismo, fruto da pandemia que vivemos, a homespotters passou de imediato a projeto prioritário (do grupo Home With a View).
Este lançamento no mercado acontece num contexto de pandemia. Consideram o atual momento uma oportunidade? Porquê?
Em contextos de pandemia ou de crise surgem sempre novas oportunidades, considerando que é um momento único para avançarmos com este projeto que já se encontrava em desenvolvimento, tornou-se uma opção lógica para nos adaptarmos a esta nova realidade. No primeiro trimestre deste ano o mercado imobiliário estava em alta. Acreditamos que bastantes oportunidades irão surgir, devido ao decréscimo do turismo, fazendo com que muitos apartamentos anteriormente em AL estejam agora disponíveis para vender/comprar ou arrendar. O mercado português continua bastante atrativo, acreditamos que o mesmo irá estabilizar e voltar a crescer na última metade deste ano. Por outro lado, no nosso portfólio de clientes contamos com investidores que sempre nos solicitaram para este tipo de serviço.
O abrandamento do turismo e “crise” no AL deram impulso a esta nova aposta? Em que medida? Que vantagem tem agora para o novo negócio terem estado nesse mercado antes?
A estagnação do turismo é do conhecimento geral que veio mudar a realidade de muitas famílias, pessoas que dependiam do alojamento local procuram neste momento uma alternativa para manter o seu investimento através de arrendamentos de longa duração ou, em último caso, proceder à venda do seu alojamento. Na Home With a View habituámo-nos a olhar para as casas sob nossa gestão com maior cuidado e atenção ao pormenor, literalmente procurámos lá viver para saber como valorizar as nossas casas para os nossos hóspedes, sabendo que se tendo este cuidado, certamente voltariam ou recomendariam a amigos e conhecidos como diversas vezes aconteceu.
É exactamente este “sentir” que procuramos levar para a homespotters, conhecer e viver as casas dos nossos clientes, existentes ou novos, por forma a que sintam confiança nos nossos serviços ou que a compra que estão a realizar é como chamamos na homespotters, o seu “perfect spot”.
Pessoas que dependiam do alojamento local procuram neste momento uma alternativa para manter o seu investimento através de arrendamentos de longa duração ou, em último caso, proceder à venda do seu alojamento.
O abrandamento do turismo impulsionou a concretização deste projeto que estava na gaveta desde o ano passado. Este projeto surge para ir ao encontro das necessidades dos nossos clientes que pretendem continuar a investir em Portugal e dos que pretendem arrendar/ vender os seus alojamentos. A vantagem centra-se nos imóveis que já temos em carteira, de uma rede de contatos e no conhecimento do mercado que o AL nos proporcionou.
Para que segmento do mercado vai estar orientada a Homespotters? Compra e/ou arrendamento? Classe média e/ou alto?
A homespotters nasceu para estar orientada para um mercado médio/alto, pois é exatamente o mesmo mercado da casas que gerimos na Home With a View, no entanto, é nossa política analisar cada cliente de forma individual pelo que nunca fechamos a porta a uma boa oportunidade.
Que modelo de negócio vai ter? Qual o papel da tecnologia e do marketing?
A digitalização sempre foi uma aposta da administração, procurámos sempre ter alternativas diferentes e em constante evolução, não para nos adaptarmos ao mercado, mas para que os nossos colaboradores sentissem que colaboram numa empresa atualizada e dinâmica, que embora de dimensão reduzida, aplica medidas que muitas vezes apenas os grandes grupos o fazem. Exemplo disso foi o de que, quando o teletrabalho passou a obrigatório, já os nossos funcionários estavam em casa a laborar há alguns dias com os equipamentos que já utilizavam no seu quotidiano, sem necessidade de qualquer adaptação da nossa parte.
Esta aposta tecnológica e procura de novas soluções terá continuidade na homespotters, bem como a aposta em campanhas de marketing audazes como aconteceu na Home With a View, quando o investimento feito permitiu um crescimento de 1000% no seu portfólio de clientes em apenas um ano. Neste momento estamos a desenvolver sistemas internos que nos permitam atuar neste mercado de forma segura e sem pôr a saúde de ninguém em causa, seja colaborador, parceiro, fornecedor ou cliente. Acreditamos que antes de qualquer campanha de marketing a desenvolver, a melhor que podemos destacar é que neste momento privilegiamos a segurança de todos.
Tendo em consideração a fase em que vivemos e a concorrência deste mercado, o papel da tecnologia é dos mais relevantes para a promoção e angariação de imóveis bem como para o processo de mediação imobiliária, seguido pelo marketing e pela readaptação da área comercial. É fundamental a aposta nestas áreas para a criação de valor e diferenciação dos restantes players, associado ao foco na superação das expectativas dos nossos clientes, ganhando a sua confiança com o nosso profissionalismo e dedicação.
Tendo em consideração a fase em que vivemos e a concorrência deste mercado, o papel da tecnologia é dos mais relevantes para a promoção e angariação de imóveis bem como para o processo de mediação imobiliária.
Quantas agências de portas abertas ao público esperam ter dentro de um ano? próprias ou franchising?
Atualmente dispomos apenas de uma agência em Lisboa, estando já em fase de arranque uma agência no Porto, e em projeto uma agência na cidade de Leiria. Em 2021 contamos desenvolver um sistema de franchising da nossas lojas, pois acreditamos que esta pandemia poderá criar a oportunidade que muita gente procura como podem contar com a nossa marca e know-how para terem o seu próprio negócio.
Estão já a contratar? Para que cargos e quantas pessoas esperam ter?
Sim, estamos neste momento em fase de contratação de pessoas para o nosso backoffice bem como para a nossa rede de consultores. Não conseguimos neste momento quantificar, pois tudo dependerá do nosso crescimento. Acredito que quando as pessoas perceberem a filosofia de recursos humanos da homespotters, onde apostamos no bem estar dos nossos colaboradores, no fim deste ano teremos uma equipa com números bastante simpáticos.
Em que zonas do país vão operar?
Estamos a operar essencialmente em Lisboa, Porto, Leiria e Algarve no entanto, conforme referido, analisamos todas as oportunidades e contexto em que se inserem.
De que forma o contexto de pandemia impactou a Home With a View?
O ano 2019 foi um ano desafiante mas com um crescimento de faturação na ordem dos 50% fruto da forte aposta em solidificar a nossa posição no mercado e a nossa projeção para 2020 seria uma consolidação dessa aposta, no entanto, entre 15/02 e 16/03 a Home with a View viu a sua faturação reduzida a números próximos de zero. O impacto foi bastante brutal e inesperado.
A Home with a View viu a sua faturação reduzida a números próximos de zero. O impacto foi bastante brutal e inesperado.
Não efetuámos qualquer reestruturação nos dois primeiros meses da pandemia pois era nossa intenção perceber qual o real impacto do que estávamos a viver. Infelizmente, com a quebra de negócio a rondar os 90%, vimo-nos obrigados de facto a implementar um plano de reestruturação que ainda se encontra em curso, visto que a realidade continua bastante severa e poucas são as perspetivas que melhor nos próximos tempos.
Que diagnóstico faz do mercado atualmente? Quer no segmento de compra e venda, quer no arrendamento…
Com base na experiência que estamos a viver e dos contratos que já realizámos, acreditamos que houve uma ligeira subida no mercado do arrendamento e mesmo compra na zona periférica de Lisboa, falamos de zonas como Oeiras, Cascais, Sintra etc.
Em primeiro lugar, pessoas que estavam a pensar adquirir casa com recurso a crédito bancário, neste momento têm receio de o fazer, e procuram o arrendamento de uma casa adequada às suas necessidades atuais. De igual forma, existem bastantes estrangeiros que dado a estabilidade da pandemia em comparação com os países de residência procuram casa para arrendar entre um e dois anos até a situação melhorar e decidirem regressar aos seus países de origem.
No segmento da compra de imóveis denotamos que existe uma maior procura por moradias ou casa com terraços e varandas o que levou a uma ligeira subida em casas com estes atributos. Houve de facto um ajuste nos imóveis localizados mais próximos do centro de Lisboa e acreditamos que será uma situação que se irá manter nos próximos tempos.
No segmento da compra de imóveis denotamos que existe uma maior procura por moradias ou casa com terraços e varandas.
Que feedback têm dos investidores internacionais?
Com exceção de alguns casos pontuais, de forma geral os nossos investidores pediram-nos para intensificar a procura por boas oportunidades de negócio. Acreditam que a crise sanitária, ao contrário de uma crise financeira e estrutural, terá uma recuperação relativamente rápida e que, portanto, as pessoas rapidamente vão ganhar confiança para voltar a viajar, até porque é algo que as pessoas se habituaram e estão ansiosas por voltar a fazer.
Como vê a recuperação do mercado imobiliário em Portugal? E os preços? Como espera que evoluam?
Acreditamos que 2021 será o ano de recuperação para o setor imobiliário em Portugal. Atualmente existe muita oferta, o que, como é normal, traduz-se numa redução de preços. A crise pandémica veio colocar muitas pessoas em dificuldades que não veem outra alternativa a não ser colocar os seus imóveis à venda, com a esperança de recuperar pelo menos o investimento ou pagar o empréstimo bancário. Esta situação faz com que os preços caiam e não traduzam os verdadeiros preços de mercado, pelo que em 2021 com as medidas que a União Europeia venha a implementar, a habituação a esta nova realidade fará com que se comece a regressar a uma nova normalidade e, consequente, subida dos preços.
Fonte: Idealista